Ressurreição, reencarnação, ancestralidade e o nada
As civilizações ao longo de sua história elaboraram quatro diferentes concepções fundamentais para a compreensão do que possa acontecer com a alma depois da morte. São elas a reencarnação, a ancestralidade, a ressurreição e o Nada. Inicialmente parte-se da premissa de que o corpo material é um composto habitável por um ser incorpóreo denominado de alma (espírito ou adjacente). Desse modo, supõem-se que o corpo humano (com forma, peso, tamanho, cor) seja animado por um princípio vital (sem forma, sem peso, sem tamanho, sem cor). Vejamos cada uma dessas concepções em particular:
REECARNAÇÃO: nascer-morrer-renascer
A concepção reencarnacionista foi defendida por filósofos, historiadores, religiões como a do Egito Antigo, o Hinduísmo, Budismo, Jainismo, Sikhismo, Taoismo, religiosidade indígena, Vodu, Cabala judaica, Rosacrucianismo, Espiritismo e inclusive o Cristianismo esotérico. Há indícios da crença na reencarnação desde a Pré-história onde achados arqueológicos encontraram pessoas mortas em posição fetal que os homens daquela época acreditavam ser uma preparação ritual para a entrada em outra vida. Outra fonte sobre a reencarnação são os Vedas - Escrito sagrado da religião Hinduísta.
A crença no renascimento originou o costume de sepultar os mortos, nesse sentido, a sepultura simbolicamente representa o útero da mãe-terra que recebe a alma de volta como atesta diversas imagens primitivas sobre a Deusa-mãe, este era o sentido inicial dado ao sepultamento.
A crença no renascimento originou o costume de sepultar os mortos, nesse sentido, a sepultura simbolicamente representa o útero da mãe-terra que recebe a alma de volta como atesta diversas imagens primitivas sobre a Deusa-mãe, este era o sentido inicial dado ao sepultamento.
ANCESTRALIDADE: nascer-morrer-ancestralizar
É a crença segundo a qual quando um indivíduo morre torna-se um ser espiritual com capacidade de proteger seus parentes que ainda não transcenderam para outro plano de que agora gozam. Por essa razão os adeptos do ancestralismo reverenciam seus antepassados e restabelece uma nova comunicação através de orações, súplicas, sacrifícios. Embora não possam ser visto, os familiares sentem sua presença ou percebem alguns sinais de sua autenticidade através de sonhos e pela posse. Um espírito protetor define bem essa crença e prática religiosa muito comum entre tradições religiosas tribais, mas não é universal, pois como se sabe, religiões de tradições orais não são proselitistas o que de certa forma acaba contribuindo para que sua prática fique restrita a determinado espaço geográfico ou mesmo étnico. Um espírito protetor é também um mediador entre os homens e o transcendente. Sua prática está presente no Oeste da África, Polinésia, Melanésia, vários povos indo-europeus, China e Japão.
No Brasil, o período compreendido entre 1549 e 1888 há registros de crenças ancestrais que foram trazidas através do tráfico de escravos. Apesar de muitos escravos terem suas crenças obliteradas pelo Cristianismo que condenavam os rituais ancestrais, nas senzalas ou nos mocambos os escravos reviviam sua identidade religiosa.
RESSURREIÇÃO: nascer-morrer-ressuscitar
Embora a ideia da ressurreição tenha ganhado força com o Cristianismo, ela é bem mais antiga. Os egípcios já prenunciavam a ressurreição de Osíris. também no mitraísmo a ressurreição era bastante popular entre os soldados romanos, o culto a Mitra foi definitivamente abolido após a adoção do Cristianismo como religião oficial, sendo que a crença na ressurreição permaneceu como base da doutrina das três maiores religiões monoteístas para judeus, cristãos e muçulmanos. (OLIVEIRA, 2007).
A perspectiva dos que defendem a ressurreição criticam tanto a reencarnação quanto a ancestralidade, não pactuando com nenhuma delas e menos ainda com os que defendem o pensamento materialista de que a vida acaba definitivamente no túmulo. Outro aspecto a ser considerado é que mesmo dentro do Cristianismo há dissensões teológicas sobre a ressurreição. Segundo a tradição teológica mais dominante, uma vez nascido, o indivíduo jamais deixará de existir. Afirmam que a alma é indestrutível, incorruptível e não pode ser aniquilada.
Em 1981 os videntes de Medjugorje transmitiram ao mundo novas informações sobre a ressurreição. É interessante confrontar o texto que diverge frontalmente da concepção reencarnacionista. Vejamos na íntegra o texto:
Em 1981 os videntes de Medjugorje transmitiram ao mundo novas informações sobre a ressurreição. É interessante confrontar o texto que diverge frontalmente da concepção reencarnacionista. Vejamos na íntegra o texto:
"No
momento da morte se deixa a Terra em plena consciência: aquela que temos agora.
No momento da morte se está consciente da separação da alma do corpo. É errado
ensinar às pessoas que se renasce mais vezes e que a alma passa por diversos
corpos. Se nasce apenas uma vez e depois o corpo se decompõe e não viverá mais.
Cada homem depois receberá um corpo transfigurado. Também quem fez o mal
durante a vida terrena pode ir diretamente ao Céu se ao final da vida se
arrepender sinceramente dos seus pecados, se confessar e comungar".
NIILISMO: nascer-morrer-desaparecer
Conhecido também como o nada ou ateísmo contemporâneo, o niilismo é uma percepção da vida em que o homem é o único responsável pelas suas ações. É uma cosmovisão desencantada da vida, afirmam não existir ser superior, nem outra dimensão além do mundo materialista – a vida se desfaz no túmulo e o indivíduo deixa de existir. Uma das características dessa visão de mundo é a fé na razão, no homem e na ciência, mas sobretudo a fé. Muitos pensadores contribuíram para o desenvolvimento do ateísmo como Sócrates, Hegel, Feuerbach, Marx, Nietzche, Freud e outros. As raízes do ateísmo contemporâneo está no movimento iluminista do século XVIII que rejeitava qualquer ideia sobre a existência de um ser transcendental. Segundo esta corrente de pensamento a crença em Deus ou vários Deuses impede que as pessoas vivam o presente, pois aguardam uma felicidade no além – o que seria um empecilho para as realizações humanas. Uma das argumentações mais comuns entre os adeptos do nada é, se Deus existisse como querem os ancestralistas, reencarnacionistas e a religião cristã o mundo todo conspiraria contra sua Criação, pois segundo a religiosidade tudo é criação de um ser superior que mesmo sendo onipotente, permite que catástrofes, doenças, pestes e outras adversidades da vida humana, sejam tão recorrentes.
REFERÊNCIAS
Se o renascimento
acontece por meio da metempsicose, a alma do indivíduo está
propensa a possuir vários corpos ao longo do tempo, nesse caso a
alma da pessoa transmigra sucessivas vezes. Não é possível
afirmar, no entanto, se a personalidade da pessoa acompanha a nova
vida, dizendo de outra forma, não se sabe se possui a mesma
personalidade que tinha em vidas passadas. Já na reencarnação
ocorre o inverso, ao morrer o renascimento se dá por “eni corpos
humanos”, com isso a personalidade acompanha o indivíduo sendo
possível, bom ou mal, ter recordações de suas vidas. Na
ressurreição após a morte o indivíduo passa a ressurgir
através de um processo chamado de mutação e transmutação do ser.
Há duas possibilidades de ressurgimento do corpo: corpo carnal ou
corpo sutil glorificado e incorruptível (JUNG, 2000).
REFERÊNCIAS
BETTENCOURT, Estevão. T. Escola mater ecclesiae. Rio de Janeiro:[s.n.], [s. d.]
CABRAL, Álvaro. NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia.São Paulo: Cultrix, 1997
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito com Bill Moyers. São Paulo: Pala Athena, 1990.
CABRAL, Álvaro. NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia.São Paulo: Cultrix, 1997
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito com Bill Moyers. São Paulo: Pala Athena, 1990.
CARNS. Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995.
CULTO ANCESTRAL. Disponível em http://mb-soft.com/believe/ttw/ancest.htm. Acesso em 19/05/14.
GONSALEZ, Alexandra. Em que crêem os que não crêem. Revista das Religiões, São Paulo, nº 17, p.37-43, jan. 2005.
OLIVEIRA, Lilian. B.[ et al] Ensino Religioso: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007. [coleção docência em formação. Série Ensino Fundamental]
JUNG, Carl. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2000
OLIVEIRA, Lilian. B.[ et al] Ensino Religioso: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007. [coleção docência em formação. Série Ensino Fundamental]
RAIMUNDO FILHO. E. Mistérios do aquém e do além. São Paulo: Paulus, [s.d.]
REENCARNAÇÃO. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reencarna%C3%A7%C3%A3o. Acesso em 18/05/14.
STEVENSON, Ian. Mergulho na História: a reencarnação é uma crença milenar. Disponível em : http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/grandes-reportagens-planeta/mergulho-na-historia-a-reencarnacao-e-uma-crenca-milenar. Acesso em 18/05/14.<https://www.medjugorje.com.br/nossa-senhora-em-medjugorje-nos-falou-da-vida-apos-a-morte/>
PRÁTICAS
RELIGIOSAS NO BRASIL COLONIAL. In Infopédia [Em
linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-05-20].
Disponível na www: .
Por favor, poderia me dizer que religiões contemplam a Ancestralidade?
ResponderExcluirJohn Keegan (2006), cita em seu livro 'Uma história da guerra', os bosquímanos, da África do Sul, como um exemplo de agrupamento humano que tem em seu conjunto de crenças a ancestralidade, a crença em um espírito protetor. Como essas tribos não vivem sob o véu do Estado e das grandes cidades, mas habitam os bosques, florestas e montanhas íngremes, são povos caçadores e coletores que vivem reclusos, são tímidos e organizam-se em bandos em torno de uma figura paterna (patrilinear) ou materna (matrilinear). Não há em suas crenças uma nomenclatura que a identifique como religião-tipo, diferente das sociedades ocidentais e orientais que nomenclaturam suas crenças como cristã, hinduísta, budista, etc. Você já observou que quando lemos sobre a religião no Egito os autores nunca mencionam uma nomenclatura para a crença daquele povo? Pois é, utilizam termos como “religião egípcia” e aqui no Brasil tem algo semelhante, quando se fala das práticas e crenças de nossos índios é comum o uso do termo “religião indígena”, mas muitos deles agora se dizem cristãos.
ExcluirJá a autora Márcia Contins (2015), contextualiza a ancestralidade no interior dos cultos afro-brasileiros, como o Candomblé, para quem os espíritos de seus pais e mães de santo, mesmo depois da morte continuam a zelar pela casa e familiares. Boas leituras Liry Drew.
Muito interessante o texto. Gostei muito.
ResponderExcluirTambém gostei achei enteresante😆😶
ExcluirQual a diferença entre a ancestralidade segundo o candomblé e o xintoísmo?
ResponderExcluirQuem é o autor do blog?
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