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Mostrando postagens de dezembro, 2014

A importância do cidadão para a democracia pluralista

A argumentação de Shumpeter, Downs e Dahl . A democracia pluralista é um modelo que reconhece no cidadão um importante papel na definição da política pública, pois para essa corrente de pensamento, através do pleito eleitoral os cidadãos têm o poder de tomar decisões que lhes são mais favoráveis e traduzam suas reais necessidades. No entanto, reconhece que esta participação não é direta, isto é, não cabe ao cidadão deliberar sobre as decisões políticas, pois ao escolher por meio do voto aqueles que os representarão, o eleitor atua como mero coadjuvante das plataformas políticas. Para compreendermos melhor, vejamos os principais argumentos levantados p or três pensadores dessa corrente. Como observa Joseph Schumpeter, existem praticamente dois grupos que disputam o poder, os grupos políticos e os eleitores propriamente dito. Para o autor, o objetivo do eleitorado nessa disputa política, resume-se em definir qual grupo político subirá no poder para governar e decidir a

Democracia representativa

Representação e controle A representatividade, enquanto orientação ideológica do modelo democrático, é uma forma que privilegia o sistema eleitoral como um fim em si mesmo, isto é, o processo democrático se realiza plenamente na capacidade (ou incapacidade) do eleitor escolher seus representantes. Aqueles que deliberarão sobre o que seja melhor para as plataformas políticas e que participam efetivamente das tomadas de decisões (SILVA JÚNIOR, 2014). Temos no governo representativo uma democracia governada ou consentida pelo povo através do voto, cabendo ao Estado distribuir as riquezas da nação de maneira equitativa a todos os cidadãos e gerenciar o crescimento e prosperidade econômica. Os governos representativos, no entanto, se caracterizam pelas realizações provisórias, são plágios defeituosos da real democracia em que o povo participa diretamente das decisões políticas. Nos governos representativos, contraditoriamente, não cessam os clamores por liberdade, igualdade e jus

O ato de votar: um diálogo com Schumpeter, Tocqueville e Vieira

Decidir ou não decidir, que diferença faz o seu voto?  Para Schumpeter (apud. Amantino, 2014), os princípios democráticos da teoria clássica, como por exemplo o bem comum, segundo a qual o povo tem uma opinião formada e racional e deve ter seus anseios observados pelos seus representantes e guardiões diretos: os políticos. Na prática o que se verifica são os privilégios de uma minoria que confunde seus próprios interesses com os interesses do grupo. Mas, a ideia de bem comum é logo desfeita por Schumpeter, pois essa suposta natureza universal que se dizem, falaciosamente, traduzir a vontade popular, é na verdade uma estratégia de poder, visto que não é possível traduzir todas as subjetividades, diga-se de passagem, são inumeráveis e até contraditórias a ponto de pôr em risco o próprio regime político. Outro conceito clássico que Schumpeter desconstrói é o de soberania popular. Para Schumpeter soberania popular não passa de uma quimera, pois não é o povo quem governa, mas seus repre

Quantas e quais são as diferentes formas de definir Liberdade? Qual a importância da terceira liberdade?

P ode-se reconhecer dois tipos diferentes de liberdade , que floresceram em diferentes contextos históricos: a liberdade positiva e a liberdade negativa , acrescida de uma terceira, conhecida como “anti-poder” , conforme observações feitas por Constant e Berlin (apud SILVA JÚNIOR, 2014). Na concepção desses autores, a liberdade positiva (dos antigos) é aquela em que o indivíduo expõe sua vontade participando nas decisões tomada pela comunidade. A concepção de liberdade aqui, reside no fato do indivíduo participar das formas de controle social. Com efeito, a observação das regras, leis e obrigações não podem ser vistas por esse mesmo indivíduo, como uma liberdade limitada, uma vez que emana de sua própria vontade. Esse tipo de liberdade é típica de pequenas sociedades, menos complexas, onde não há grandes preocupações com as necessidades físicas. N a contramão da liberdade positiva, insere-se a perspectiva negativa, caracterizada pelas grandes sociedades, inexistência de mão d

Liberdade e igualdade segundo John Rawls, Ronald Dworkin e Robert Nozick

Quais os desafios para criar uma sociedade mais livre e igualitária? A premissa inicial dos revisionistas liberais é de que o modo como a sociedade se organizou, submetendo os homens uns aos outros, numa relação de domínio, onde as diferenças entre os mesmos foram intensificadas devido ao aumento de privilégios de uns em detrimento de outros formam a tônica das discussões sobre liberdade e igualdade. A fim de equalizar essas desigualdades, John Rawls , propôs a criação de um contrato social fundamentado por leis, onde as partes se submeteriam as regras sociais a fim de resguardar a vida em sociedade. Essas regras de conduta é formada por um sistema de cooperação que tem como base o bem comum daqueles que vivem em sociedade e que podem ser expressas a partir de dois princípios : o da igualdade de oportunidades e o princípio da diferença. P ara Ronald Dworkin , os desafios na criação de uma sociedade mais igual reside no respeito do princípio de neutralidade, ond

Movimentos de resistência no Brasil

a presença de movimentos de resistência no passado e presente do Brasil e  sua relação com a discussão atual acerca das ações afirmativas. M arquese (2005) chama de resistência escrava coletiva todos os quilombos formados com ênfase nas revoltas em larga escala. Além das comunidades quilombolas, o surgimento em início do século XIX de outras formas de resistência à escravidão, como por exemplo o ciclo de revoltas ocorridas no Recôncavo Baiano nos anos de 1807 e 1835 definem bem seu uso conceitual de resistência, apesar das revoltas escravas terem diminuídas após a tomada do quilombo de Palmares. Alguns acontecimentos contribuíram para desencadear essas revoltas como as invasões holandesas e conflitos luso-brasileiros que, segundo o autor, intensificaram os movimentos. A configuração de um reino neoafricano em Palmares somente foi possível graças a incursão desses conflitos. C arvalho (2008) constrói uma crítica ao academicismo brasileiro que desde a década de 1930 não vem f

Marshall Sahlins - características e obra

O bservações sobre as características da produção acadêmica de Marshall Sahlins. Na apresentação à edição brasileira do livro História e cultura, de Marshall Sahlins, Gilberto Velho, professor de Antropologia social e membro da Academia Brasileira de Ciências do Rio de Janeiro, classifica Marshall Sahlins como escritor versátil e um importante antropólogo que tem muito de suas obras publicadas no Brasil. Escritor incansável, dedica-se há mais de 40 anos em elucidar questões da Antropologia contemporânea, numa trajetória diversificada, revisões de perspectivas, mas sobretudo, despertando reflexões provocantes no cenário acadêmico. 1 Um importante trabalho de Marshall Sahlins para a Antropologia pode ser conferido em Sociedades tribais. Nesta obra o autor critica a imaginação ocidental por cunhar nos povos que habitam a natureza e com ela se relaciona, a insígnia de “bárbaro”, “selvagem”, “primitivo”. “satisfeitos com nós mesmos, desprezamos os primitivos por a eles fa

Ciências Sociais - surgimento e desenvolvimento da sociologia da cultura

O texto apresenta uma abordagem teórica sobre as Ciências Sociais contextualizando seu surgimento, desenvolvimento e especialização do estudo no campo da Sociologia da cultura(séc. XX). Opondo-se ao conceito de cultura modal pode-se dividir o estudo sobre a cultura popular, questão nacional e folclore em três momentos distintos: 1º interiorização e diseminação; 2º resistência; 3º confinamento cultural. O surgimento da Sociologia como campo diferenciado de outros saberes teve início no século XIX, cujas correntes de pensamento sempre esteve ligada a sociologia clássica de Tonnies, Durkheim, Weber, Marx e a Escola de Chicago. Mas é somente no século XX que a Sociologia cultural, contrapondo-se ao conceito de cultura modal (superioridade cultural), voltará o foco de sua análise contemplando as expressões culturais da literatura e da pintura de povos "primitivos". A Antropologia já dava ênfase à temática indígena nos trabalhos de Tylor, Malinowsky, Radcliffe-Brown.  

Antropologia social dinâmica

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No estudo sobre Antropologia Social Dinâmica, dois importantes precursores se destacam: Gluckman e Barthes. Ambos se empenharam na ascensão da Antropologia Social, cada um com características próprias. Herman Max Gluckman, foi um importante e renomado antropólogo social britânico. Em 1949 tornou-se o primeiro professor de Antropologia Social da Universidade de Manchester e fundou a Escola de Antropologia de Manchester. Nascido e criado na África do Sul, Gluckman optou pela cidadania britânica, pois não concordava com o apartheid dominante na África. Aluno de Evans-Pritchard e Radcliffe-Brown, formou-se na universidade de Oxford, onde concluiu seu doutorado. Como antropólogo, desenvolveu estudos de campo em Zâmbia, entre os povos Lozi e Tonga. Analisando as relações existentes entre africanos e europeus, Gluckman percebe a existência de modos específicos de comportamentos, certificando-se de que os conflitos moldavam-se, dinamicamente, conduzidos pelos dois grupos étnicos opostos.

Godelier e os símbolos

Maurice Godelier, considerado um pensador marxista estrutural, dedicou-se aos estudos das sociedades pré-capitalistas, ao modo de produção asiático e à Antropologia econômica. Em suas pesquisas sobre as estruturas econômicas, estruturas de parentesco e as estruturas religiosas, elabora sua teoria sobre correspondências. Seu pensamento absorveu influências da antropologia de Claude Lévi-Strauss, na década de 1980, e do historiador Fernand Braudel de 1960 a 1963. Dedicou-se a fazer uma pesquisa de campo na Oceania, entre os povos Baruya de Papua-Nova Guiné. De onde resultou sua obra intitulada La production de grands hommes: pouvoir et domination masculine chez les Baruya de Nouvelle-Guinée. Ao investigar as relações de poder entre quinze clãs organizados pelo sistema patrilinear, revelou que essas relações eram baseadas através da divisão do gênero. Essa divisão sexual, que caracterizavam os papéis sociais de cada um no meio social, era responsável pela acentuação do imaginário e d

Fenômenos da globalização e interculturalidade

           Fenômenos da globalização e interculturalidade Segundo Garcia Canclini (2007), globalização pode ser entendida como: “conjunto de estratégias para realizar a hegemonia de conglomerados industriais, corporações financeiras, majors do cinema, da televisão, da música e da informática para apropriar-se dos recursos naturais e culturais, do trabalho, do ócio e do dinheiro dos países pobres” ( GARCIA CANCLINI, 2007:29). O autor desenvolve sua análise a partir da perspectiva do imaginário c ompreendido como uma realidade imaginad a por indivíduos, governos, empresas e cujo resultado desse imaginário coletivo, desenvolvem-se relaç ões heterogêne

Globalização e interculturalidade

Qual a relação entre globalização e interculturalidade? Na perspectiva de Canclini ( 2007 ), que opera seu pensamento sobre o imaginário, a globalização pode ser entendida como: “conjunto de estratégias para realizar a hegemonia de conglomerados industriais, corporações financeiras, majors do cinema, da televisão, da música e da informática para apropriar-se dos recursos naturais e culturais, do trabalho, do ócio e do dinheiro dos países pobres” (CANCLINI, 2007 :29). O imaginário não pode ser compreendido como uma realidade falsa, mas como algo imaginado por indivíduos, governos, empresas e que expõem uma relação heterogênea entre produção e consumo, países dependentes e países produtores preocupados em inserir seus bens de consumo em mercados mais amplos . O imaginário contribui para a arquitetura da globalização. Para o autor, as políticas globalizadoras conseguem mobilizar um certo consenso coletivo por meio do imaginário local e nacional. O que se anuncia como glo