PANTEÃO ANIMAL

    Os povos primitivos tinham seu panteão sagrado. Acreditavam que os animais eram divinos e mitificaram esse panteão animal através de ritos. O boi, o elefante, a coruja, o carneiro, o escaravelho e muitos outros animais dependendo da cultura de cada povo eram entendidos como seres divinos pelas qualidades que encerravam cada um: coragem, destreza, força, invencibilidade, etc. Era uma característica zoomórfica dos povos que viviam da caça. No antigo Egito a concepção de deidade toma uma forma híbrida sem dissociar de vez com o panteão animal. O antropomorfismo, isto é, divindades metade gente e metade animal reinaram no imaginário popular dos egípcios e chegam à modernidade na forma de mitos. Na Grécia, acreditava-se que os deuses habitavam o Monte Olimpo e muitas das divindades gregas tinham associações com os bichos. Basta verificar a mitologia grega: minotauro, Poseidon, fênix, etc. Os bichos, embora rebaixados à categoria de mascotes ainda encantava os humanos. Na Amazônia práticas totêmicas ainda existem em poucas tribos como resquício de uma mitologia ancestral. O antropomorfismo – que gerou uma compreensão de um deus com aspecto humano teve início no ano 3200 a.C. O que se pode tirar disso tudo? A noção de Deus já passou por várias transformações desde astro, natureza, bichos, aura, humanos, ideia... e continua se metamorfoseando conforme as culturas de cada povo, mas para a cultura ocidental a representação de Deus é de forma humana.

    No Ocidente, as religiões abraâmicas repudiaram a adoração aos animais ao considerar loucura tal prática na adoração de seres irracionais e inferiores, isto é, essas religiões entendem que aquele que criou os bichos é superior às criaturas. Nesse sentido, o culto aos animais deveria ser desprezado por se tratar de algo com menor valor frente ao seu Criador. O autor do livro de Sabedoria interpreta essa prática no capítulo 11, versículo 15 como o abandono do culto ao Criador, extraordinário, excelso, para adorar o que é vil, infame e ordinário - constituindo assim, a prática idolátrica. É deixar de reconhecer a excepcionalidade do Criador e em seu lugar prestar culto à criatura. Enquanto que não se sabe com exatidão quem escreveu o livro de Sabedoria ( possivelmente tinha como objeto combater a filosofia grega e advertir os judeus no Egito a não abandonarem o culto ao Deus único), outros livros sagrados fora do ambiente judeu encorajam seus adeptos a prestarem culto aos animais. É o caso do livro dos Vedas que datam de 1200 a. C. exortando nos fiéis a veneração ao cavalo. Já no livro sagrado Ramayana (datado do séc. IV a. C.) o urso e o macaco são considerados dignos de veneração. Quem está com a verdade? Os que reconhecem essa prática antes da Era cristã ou os que  à sucederam e a condenaram? Essa é uma questão que ultrapassa a discussão certo/errado. Se para as religiões abraâmicas os animais são parte inferior da criação, o mesmo não é encarado pelos budistas na sua vertente mais religiosa. No Budismo os animais estão no mesmo pé de igualdade que os humanos e essa postura influenciou a veneração de vários animais na China do século III a. C.







REFERÊNCIAS


BÍBLIA. A. T. Sabedoria. Português. In: Bíblia sagrada. Versão Monges de Maredsous. São Paulo: Claretiana, Cap. 11, vers. 15.

IWAKURA, Mariana. SANTA BICHARADA! Revista das Religiões. São Paulo, n. 16, p35-39, dez. 2004.

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