Capoeira-rá-rá-rá

capoeira na escola
Atualmente, um estudante que esteja matriculado numa determinada unidade escolar, sente pouco ou nenhum estranhamento com a capoeira por está associada a mais uma alternativa à prática esportiva em várias escolas. Mas nem sempre foi assim, muito da cultura afro-brasileira que perpassa pela culinária, pela arte, religião e a própria capoeira sempre foram alvos de preconceitos. Sempre existiram e ainda se percebe em menor grau, associações equivocadas em relação à capoeira. Uma delas é a associação que se faz entre marginalidade e sua prática, quando na verdade o que está por trás desta associação é uma discriminação velada que muitas escolas desconstruíram ao incorporarem a capoeira em seus currículos.

reabilitação histórica
Na maioria das vezes, tem-se a visão geral do uso da capoeira como tão somente uma prática esportiva ou de defesa pessoal, ou ainda aquela que os meios de comunicação de massa concebe nos moldes do cinema ou telenovelas. Nos discursos sobre inclusão social, frequentemente se percebe a inserção da capoeira no espaço escolar como uma alternativa positiva. Uma dessas políticas que valorizaram a prática da capoeira foi graças a implementação do Estatuto da Igualdade Racial. Outra percepção, que se distingue do senso comum, diz respeito a resistência negra contra a escravidão. Nesse sentido a capoeira foi extremamente importante para assegurar a vida nos Quilombos, pois garantiam a segurança da comunidade. Pessoalmente, nunca tive dificuldades com a presença da capoeira e seus símbolos bem como a construção do seu espaço, até incentivei sua prática entre meus familiares, amigos e alunos.

possibilidades didáticas
Enquanto professor, pode-se iniciar os estudos sobre África através de temas como a capoeira e ir criando uma identidade com conteúdos estruturantes (escravidão e resistência, herança cultural, etnicidade, etc.) - É uma excelente oportunidade para desconstruir pré-noções sobre o negro no Brasil. No campo social essas discussões amenizam os conflitos sobre etnia lançando uma compreensão mais holística e participante, sobretudo no espaço escolar, mas não apenas.
Experiências bem sucedidas são reveladoras quando diagnosticam melhor desempenho nos estudos entre alunos frequentadores dessa modalidade. A capoeira pode ser vista como um aliada a educação quando se cruza alguns dados entre alunos com baixa assiduidade e rendimento escolar, maior interação e participação. É também uma forte aliada contra a evasão, pois existe estreita relação entre identidade e sua prática. Além do aspecto disciplinar e de pertencimento do grupo, a capoeira contribui para formação da cidadania, pois deixa de ser visto como uma prática pueril e marginal passando a integrar a cultura material e a identidade de milhares de pessoas.


identidade

A premissa inicial de nossa compreensão é esta: a capoeira não é uma atividade marginal. Inserida no ambiente escolar, a capoeira contribui para a construção de uma identidade negra que se opõe ao imaginário popular. O imaginário está carregado de representações negativas em relação ao negro, muitas vezes essas pré-noções perpassam as práticas pedagógicas e reproduzem resultados avassaladores nas mentes das crianças negras.

É preciso desconstruir a mentalidade pedagógica, segundo o qual elementos culturais de identidade negra são partes do folclore popular. A capoeira ainda é estigmatizada por alguns setores educacionais, assim como o bumba-meu-boi, samba de roda, etc. acabam ganhando traços de cultura popular ou "inferior," de maneira sutil, sem se deixar flagrar o preconceito existente. Essas festividades, paralelo aos feriados e festas oficiais do Estado, são lembradas apenas como aspectos da cultura, parte de um todo globalizante. As tradições comemorativas da cultura negra lograram êxito sob a insígnia do folclore, que produz e vivencia essas experiências. Ademais, o sistema de ensino tem reforçado as diferenças através de uma pedagogia que supervaloriza duplamente a cultura branco-européia e o recalque aos grupos de matriz africana e sua cultura.

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