Introdução ao Marxismo I



Conhecer para transformar
O conhecimento, sobretudo o conhecimento científico, centrado na razão, apesar de ser uma descoberta recente na História da humanidade, tende a ser uma fonte legítima e segura sobre o conhecimento. Dogmatismo e  empiria superados, modificam-se também o objetivo do conhecimento, seus métodos e o modo como se pensa a realidade. O desejo de se chegar ao conhecimento seguro, exato e “verdadeiro” é depositado, exclusivamente, na razão humana. Para Marx, o conhecimento humano está em constante transformação (dialética), as conclusões devem ser examinadas e ordenadas pela razão antes de ser considerada válida. Segundo o materialismo dialético só é possível atingir o conhecimento seguro e sem erros, através de inúmeras repetições do processo que conduz à consciência, confrontando-os com  a observação. O materialismo dialético proposto por Marx defende a oposição das forças contrárias e o inter-relacionamento dos fatos se contrapondo ao conhecimento antidialético, anti-histórico e mecanicista.

A luta de classes na obra de Marx
Para Marx, o conceito de lutas de classes é fundamental para compreensão do materialismo histórico, pois a luta de classe funciona como uma espécie de motor da história. A luta de classes é a expressão máxima das contradições existentes de uma sociedade. Apesar de Marx ter enfatizado que mudanças estruturais no seio de uma sociedade só poderão ser efetivadas mediante articulações em sua base estrutural, a ruptura e enfrentamento só é possível quando o homem toma consciência do conflito e luta para transformá-lo, pois são suas condições materiais que o fazem vê o quanto é oprimido. A História humana está repleta de registros sobre a luta entre as forças contrárias: opressores e oprimidos, escravo e servo, patrício e plebeu, etc. em constante oposição. Também se traduz como uma luta pelo poder e pela liberdade,  numa guerra ininterrupta capaz de sucumbir sistemas, impérios, monarquias e porque não o capitalismo? A superação histórica desse motor, ou seja, o materialismo histórico, só seria realizável através da extinção do confronto entre exploradores e explorados. Segundo Marx, o processo de florescimento de uma sociedade emanada pela revolução é inevitável e somente quando essa sociedade ascender os homens estarão livres das injustiças sociais.

Marx e Feuerbach
Marx, direciona sua crítica tanto ao idealismo hegeliano quanto ao materialismo de Feuerbach. Um e outro exerceram forte influência no pensamento de Marx, no entanto durante a elaboração das bases do materialismo dialético, o autor se distanciará das duas tendências filosóficas por reconhecer nessas filosofias um distanciamento da realidade material e concreta do mundo. Essa ruptura foi violenta, pois Marx critica o idealismo de Hegel ancorado na antropologia de Feuerbach e rompe com o materialismo antropológico para elaborar o materialismo dialético.
O materialismo de Feuerbach ocupava-se em grande medida, com problemas teóricos da religião e da ciência e menos com a política e as ações entre sujeito e o meio social. Em sua filosofia, Feuerbach não reconhecia o processo dialético de permanência e evolução.
O diálogo de Marx foi apresentado como uma crítica à ideologia pós-hegeliana, tanto na busca da superação  das limitações do idealismo de Hegel quanto na refutação do materialismo teórico de Feuerbach. Marx via no materialismo de Feuerbach uma reflexão, ainda, na erudição do campo teórico. Sentiu a necessidade de transcender para o mundo concreto e real, tornando-o acessível ao homem comum e marginalizado. Marx propõe uma visão de mundo desencantada do “antigo materialismo”, uma percepção histórica, onde o homem é influenciado por sua época, geografia e sociedade que o impede de realiza a transformação social. Marx acusa o “antigo materialismo” de não reconhecer  a luta de classe com base nas contradições. 

O que é alienação?
Alienação é uma ideia de conteúdo jurídico, que significa a transferência de um bem ou de um direito, ou ainda sua venda, por isso é que se diz, ao adquirir por exemplo, um imóvel ou carro através de um financiamento, que o patrimônio ou direito de uso daquele bem está alienado até sua quitação.  É assim quando você compra uma casa, um carro, etc. Rousseau, passou a utilizar o termo alienação no sentido de privação do direito, falta,, necessidade, exclusão. Hegel e Feuerbach a utilizaram com o sentido de desumanização e injustiça que será emprestado a Marx como conceito-chave de sua teoria sobre a exploração econômica exercida sobre o trabalhador, através da mais-valia, no modo de produção capitalista.

O que é Mais-valia?
 Mais-valia é o nome dado por Karl Marx à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base do lucro no sistema capitalista. Karl Marx chama a atenção para o fato de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário constante - o que ele chama de mais-valia absoluta; Ou ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização - o que ele chama de mais-valia relativa. Fazendo a distinção entre mais-valia absoluta e mais-valia relativa, Marx rompe com a ideia ricardiana do lucro como "resíduo" e percebe a possibilidade de os capitalistas ampliarem autonomamente suas taxas de lucro sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra.
O uso da força de trabalho para a indústria,  a propriedade privada e o assalariamento, segundo Marx, alienavam o homem ou o separavam dos meios de produção. Assim, a mais-valia tornara o homem estranho a si mesmo, pois o operário não é capaz de reconhecer seu trabalho fora do espaço fabril, nem suas intenções, desejos ou necessidades. Alienado, o homem só pode recuperar sua integridade pela crítica radical do sistema através da ação política consciente e transformadora.A mais-valia priva o trabalhador de pensar, pois mergulhado numa lógica de produzir sempre mais, competindo consigo mesmo e com a máquina, a atividade intelectual lhe parece uma anedota em relação a seus desejos ou necessidades. Lembremos que foi justamente por ocasião do ócio, que surge por volta  de 4000 anos a. C. o homem rationale  que se dedicou a atividade contemplativa em oposição ao trabalho e que formulou todas as teorias filosóficas e religiosas da qual temos conhecimento.

Marx e Engels
Segundo o Manifesto do Partido Comunista, a burguesia ascendente, durante a fase pré-capitalista de expansão das colônias mercantilistas, a produção econômica e a articulação social formam  o alicerce em que se assentaram a sociedade industrial. Marx e Engels conseguiram com o manifesto comunista desnaturalizar as relações de poder entre as classes sociais reconfiguradas em suas formas modernas de domínio. A ideia, segundo o qual os governantes são escolhidos dadivamente permeava o imaginário popular desde os sistemas absolutistas, onde o rei tinha o direito divino de governar. Além do mais, o sistema capitalista centralizada  na acumulação do capital e apropriação da terra não ofereceria o cenário necessário para a implantação do regime comunista. Desse modo, as lutas de classes, existentes entre exploradores e explorados, decorrente dos modos de produção e das relações de produção, só deverão ser superadas através do materialismo histórico e dialético por meio da revolução do proletariado. Marx via a possibilidade de antecipar o declínio do capitalismo, uma vez que sua decadência seria inevitável segundo o processo histórico. A vitória do proletariado, através da tomada de poder, inauguraria o advento de uma nova sociedade sem divisões de classes e sem a exploração e a miséria.

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