O que você precisa saber sobre o Bumba-meu-boi


várias histórias, várias versões:
A discussão sobre a origem do bumba-meu-boi é bastante diversificada e divide muitas opiniões, balizando entre cultura erudita e cultura popular. Algumas fontes afirmam o surgimento do bumba-meu-boi no século XVIII em Pernambuco. Essa fonte refere-se apenas ao registro mais antigo na  nossa literatura sobre essa festividade que é do século XVIII, meros 300 anos de existência. Esse registro levanta algumas questões pertinentes: Como pode essa festividade ter surgida no Brasil se o gado bovino não é originário das Américas? Registro esse, feito por um sacerdote católico, Pe. Miguel do Sacramento Lopes Gama em 11 de janeiro de 1840, em Recife. Outra questão de fundo trata-se da ideia de ressurreição, um termo de conteúdo teológico-religioso, que é consideravelmente mais antigo que o próprio cristianismo, pois a ideia religiosa de ressurreição já se verifica no antigo Egito, na Pérsia e outros povos da antiguidade. Mas o problema continua, pois outras fontes afirmam ser do século XIX. Considerando o fato de sermos um país colonizado por povos ibéricos e de que sofremos violento processo de aculturação onde muitos elementos de nossa cultura se perderam e outros se misturaram, o que se sabe de fato é que os jesuítas, durante o período colonial, suplantaram nessas terras uma cultura filtrada conforme os interesses eclesiais. Outra importante questão de fundo e que não pode ser desconsiderada são os intercâmbios culturais entre colonizadores e colonizados. 

magia do boi:
A presença de festas europeias na cultura brasileira é uma tônica que se mescla  à outros elementos da cultura indígena e africana, bem como a interpenetração cultural: autos, congada, maracatu, bumba-meu-boi entre outros. 

Peres (2008) também fala sobre o encantado mundo dos folguedos ressaltando a magia do bumba-meu-boi pelo fato dessa dança envolver a relação de três elementos diferentes entre si: o elemento humano, o elemento animal e o elemento fantástico. 

origem:
Brandão (2007), presume que a festividade do bumba-meu-boi e outras festas folclóricas em alagoas tenha uma origem mítica europeia, além do mais suas práticas se modificam como se verifica na evolução dos folguedos, suas danças, símbolos, assim como também suas permanências: a ressurreição. 

Na mesma linha de pensamento, Faleiro (2010) ressalta os autores que reivindicam sua origem europeia e ocidental, embora reconhecendo a influência de elementos da cultura portuguesa, espanhola, indígena e africana. 

Jorge Martínez (2001) afirma categoricamente que a mais provável origem do bumba-meu-boi esteja relacionada com algum complexo ritual europeu, o autor cita como exemplo, as corridas de touros e inclusive o culto religioso à Mitra, lamentando o fato de muitos autores brasileiros estarem mergulhados numa ideia ilusória sobre o bumba-meu-boi. 

presença, “praticamente,” em todas as culturas:
Batista (2004), descortina as manifestações do folclore brasileiro, através dos estudos de Mário de Andrade, que se debruçou nos estudos sobre as manifestações do folclore brasileiro. Os resultados desses estudos revelam importantes aspectos da cultura brasileira, à saber: 1º. trata-se de uma tradição popular universal; 2º. as manifestações folclóricas do Brasil são reminiscências de antigos rituais de fertilidade; 3º localiza paralelos culturais de três continentes: europeu, africano e americano. 



BATISTA, Marta. R. Coleção Mário de Andrade: religião e magia/música e dança/ cotidiano. São Paulo: Usp, 2004.

BRANDÃO, Théo. O reisado alagoano. Maceió: Edufal, 2007.

CARNS. Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã, São Paulo: Vida Nova, 1995).

ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA DE HISTÓRIA: deuses e deusas. São Paulo: Duetto Editorial, 2009. (Vol. II). p.147.

ENCICLOPÉDIA CONHECER: Domingo na praça - as festas do povo. São Paulo: Abril cultural, 1969.  (Vol. XI) p. 2737-2739.

JORGE MARTÍNEZ, Amós Ayala. Epa! Toro prieto. México: Instituto Michoacan da cultura,2001.)

PERES, Eraldo. O encantador Seu Teodoro do boi: pesquisa e fotografias. Brasília: Editora Senac, 2008.

FALEIRO, Angelita. Desbravando nosso folclore. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2007.



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