Ocidentalização

       

Existe no mundo árabe três correntes para implantação da democracia ocidental: o nacionalismo pós-colonial, a organização islâmica e o movimento secular. As três vertentes, segundo Hicham, disputam a região cujo futuro é indefinido. Os problemas de legitimidade, disparidades e conflitos que os árabes enfrentam se mesclam com o abalo econômico mundial, latente  há décadas. Já o neocolonialismo interpreta a crise como democratização insuficiente ou como conflito cultural e religioso. O fato é que essa crise resistiu a todas as tentativas de solução tanto pelos autores bem-intencionados quanto por dirigentes brutais. A ausência de legitimidade provocaram disparidades entre governantes e governados, laicos e fundamentalistas religiosos, entre a população pobre e a elite – o que pode levar a uma série de explosões imprevisíveis e perigosas. O nacionalismo árabe, segundo Hicham, aspirava ser um supranacionalismo para libertar-se do colonialismo (wataniya) e levar solidariedade transnacional entre povos árabes (qawmiya) isso permitiria enfrentar problemas como o da Palestina ou a subordinação econômica, mas teve sua trajetória errática. Em 1956 a tentativa anglo-franco-israelense de retomar o Canal de Suez foi rechaçada. Em 1973 conheceu um novo impulso, com a guerra israelo-árabe de outubro, e o embargo do petróleo. Os movimentos de libertação se resumiram em estabelecer um único partido com um líder vitalício. Apesar das lutas entre governos árabes, persistia a aspiração de uma comunidade árabe transnacional, marcada por um patrimônio islâmico comum. O islamismo político em expansão assimilou estas posições do nacionalismo laico, pois ambos compartilham pontos em comum. Por décadas o Ocidente e os líderes árabes acirraram as tensões entre nacionalismo e islamismo cortejando e promovendo as correntes conservadoras islamitas. A estratégia de neoconservadores americanos foi criar uma fratura geopolítica entre o mundo árabe e o Irã que em 2003 voltou a ser reforçada com a invasão americana ao Iraque. Os Estados árabes insistem que o problema nuclear seja resolvido regionalmente e que as armas atômicas entrem nas negociações. O movimento secular reivindica a identidade árabe e islâmica e tem orgulho da fusão com as culturas e línguas do mundo. Não mantém laço com governos e regimes nem possui programa político, condena o autoritalismo e a corrupção. O movimento secular aspira estabelecer a democracia e um Estado de direito sem intervenção militar estrangeira. Defende a identidade árabe e islâmica, e prega um modernismo intelectual e cultural. Para Hicham,os islamitas não têm nenhum programa econômico eficaz a propor, que consiga contribuir para reduzir o crime e a corrupção e para impor a ordem e a segurança. No mais, retomam determinados temas religiosos para condenar o discurso sobre direitos humanos e sociais, o papel da mulher, propõem estruturas autoritárias supostamente como política identitária e de resistência à ocidentalização. O autor acredita que islamitas e progressistas laicos defendem um ponto comum: a existência de um Estado democrático de direito na região, porém para os progressistas a soberania deve emanar da vontade popular, enquanto que para os islamitas esta soberania deve ser absoluta pautada numa ideologia religiosa: o islã. Existe possibilidade de uma política de aliança entre os dois grupos, uma local organizando greves e manifestos contra o desemprego, sobrevivência, preços altos e outra internacional de apoio à Palestina, contra a intervenção de forças estrangeiras e a ordem econômica mundial e favorável ao direito internacional.Para os progressistas os direitos humanos devem ser pautados nos princípios de amor à pátria e cooperação entre os estados e a plena participação na política internacional, liberdade política e ainda um Estado de direito para todos, melhorias na vida econômica e social, tolerância a diversidade étnica e religiosa.
Os nacionalistas criaram um espaço de mobilização, de união, de pluralismo e de democracia após anos de conflitos sangrentos sem renunciar à independência nacional e as diferenças culturais entre seus povos.

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