A Educação e a construção do conhecimento no mundo contemporâneo




A transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea é marcada por grandes transformações sociais como as inovações técnicas que surgiram da Revolução Francesa, o fim do absolutismo monárquico, declínio do sistema feudal na Europa e a consolidação do capitalismo industrial. No campo educacional essas transformações trouxeram novos conceitos de educação, como por exemplo no tocante a separação entre igreja e Estado. Outra característica da educação na contemporaneidade foi o surgimento de dois sistemas públicos de educação. Os educadores mais notáveis deste novo modelo de educação foram Pestalozzi, Rebart e Froebel, sobretudo porque garantiram às crianças o direito a educação (PILETTI, 1991).

Graças a revolução francesa ocorrida em 1989, os privilégios da nobreza e do clero, como por exemplo, não pagar impostos, receber vantagens e cargos públicos da monarquia foram extintas baseados nos ideais de igualité, liberté e fraterné. Esses ideais acabaram sendo transplantados para outras partes do mundo, inclusive o Brasil. Antes da revolução francesa o sistema educacional era voltado para a classe dominante, pessoas comuns não tinha acesso ao conhecimento, restando aos mais pobres o trabalho braçal. A revolução francesa inspirou a crescente ideia de que o Estado deveria patrocinar um sistema de ensino público que atendesse a demanda popular, surgiram assim duas tendências que se destacaram: a primeira voltada para a educação dos súditos e a outra para a educação dos cidadãos (COTRIM, 1985. grifo nosso).

Para Lombardi (2005), a realidade da educação brasileira está sedimentada entre a dicotomia do ensino público e o ensino privado. No entanto, para o autor o que é considerado estatal nem é de natureza pública menos ainda de interesse público, mas ao contrário, tende a favorecer aos interesses do Estado e do ensino privado. Aliás, desde o período colonial sempre existiu uma dupla instrumentalização do ensino brasileiro: uma voltada para a catequização das pessoas comuns que caracteriza a educação popular e outra voltada para a formação das elites patriarcais cuja conclusão dos estudos eram realizados na Europa com financiamento da coroa imperial.

Uma análise da historiografia da educação brasileira revela a influência de diferentes linhas de pensamento: uma clerical ligada ao pensamento religioso, a estatal e a democratização da escola pública. A influência religiosa na educação esteve presente desde o descobrimento do Brasil até a reforma pombalina em 1759, isto é, por mais de 250 anos o conhecimento manteve-se ressonante a Igreja católica. No período republicano novos princípios educacionais construíram um novo sistema educacional baseado nos ideais republicanos segundo o qual é responsabilidade do Estado brasileiro manter e financiar o sistema educacional do país. A educação estatal garantia a separação dos interesses da religião católica (religião oficial do império) das decisões do governo. A Constituição de 1934 assegurou entre outras competências a laicização do conhecimento, gratuidade do ensino, caráter facultativo e interconfessional do ensino religioso nas escolas públicas. Desde esse período a educação tem sofrido sucessivas reformas. A nova política educacional, sobretudo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação estruturou um conhecimento nas escolas inspirado na liberdade de pensamento e solidariedade humana como características principais, além de diversificar o ensino com matérias obrigatórias. Atualmente, a Educação Nova, sob controle do Governo Federal, tende a direcionar o conhecimento a função de integração e planejamento de várias modalidades de ensino (técnico, profissionalizante, entre outros). A educação brasileira sempre esteve ameaçada por medidas, decretos e leis que impediam o povo de pensar criticamente sua situação social, como exemplo pode-se citar a intermitência do ensino de Filosofia e Sociologia que a mais de um século vem sendo negado nas camadas populares. A educação estatal prejulga que essas disciplinas, e em especial a Sociologia, oferecem conteúdos que ameaçam a ordem e o convívio social. Desse modo, foi inaugurado no Brasil uma tradição que exclui dos currículos escolares disciplinas que orientam um conhecimento libertário e multifacetário, todavia o substituem por uma variedades de conteúdos mais patriotizados como o ensino de OSPB com ênfase na moral cívica, ordem social e obediência a lei. As escolas brasileiras carecem de uma disciplina comprometida com as questões sociais do mundo contemporâneo. Nessa perspectiva, o conhecimento contemporâneo deve contemplar uma educação libertária para além da sala de aula, envolvida com os problemas sociais do país, com a pesquisa e a reconstrução de novas práticas pedagógicas. A realidade brasileira tem que se desfazer dos determinismos históricos construídos e tecer novas perspectivas comprometida socialmente com o mundo em que vivemos e com uma profunda ética nas interações entre os indivíduos. A educação e a escolarização fazem parte desse ethos humano e inaugura a construção do sujeito portador de uma herança cultural: o conhecimento. Repensar a organização e estrutura de ensino atual permite elencar novos objetivos pautado numa sociedade mais igualitária.




REFERÊNCIAS


PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática, 1991.

COTRIM, Gilberto V. ; PARISI, Mário. Fundamentos da Educação. São Paulo: Saraiva, 1985.

LOMBARDI, José C.; SAVIANI, Dermeval; NASCIMENTO, Maria I. M. Escola Pública no Brasil: História e Historiografia. Autores associados: Campinas, 2005.

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