Antropologia: características do paradigma hermenêutico
Características do
Paradigma hermenêutico
Uma das mais fortes
características do paradigma hermenêutico, segundo Cardoso de
Oliveira (2006), é a intersubjetividade do Antropólogo. “E
justamente o reconhecimento dessa intersubjetividade que torna o
antropólogo moderno um cientista social menos ingênuo”(p. 31).
Portanto, através da intersubjetividade, a percepção da realidade
(ouvir, falar e escrever) é responsável por focalizar a pesquisa
empírica. No entendimento do autor, a textualização dos dados
provenientes da observação sistemática, deve acontecer antes da
escrita.
O paradigma hermenêutico,
na análise de Cardoso de Oliveira(2006), é um paradigma vinculado
à tradição intelectualista europeia continental. Para ele,
trata-se de uma tentativa bem articulada, embora tardia, que buscava
recuperar a perspectiva filosófica do séc. XIX. O paradigma
hermenêutico pode ser compreendido como uma reação contra o
pensamento Iluminista. Por esse motivo é que se popularizou o uso da
expressão pós-moderno, um indicativo de que a chamada modernidade,
havia chegado ao fim. O autor comparando o paradigma hermenêutico
com outros (racionalista e estruturalista, culturalista e
estrutural-funcionalista), observa como positivo o rejuvenescimento
da Antropologia. A perspectiva hermenêutica trouxe novos elementos
que se instalaram dentro da Antropologia. Não veio para erradicar os
paradigmas tradicionais, mas para ser mais uma alternativa,
juntando-se aos paradigmas já existentes e, como dito anteriormente,
adicionando novas características tais como:
a moderação na
autoridade do autor;
A hermenêutica, como
observa Stein (2004), não se trata de uma verdade empírica e muito
menos de uma verdade absoluta, pois se assenta nas condições
humanas do diálogo e da linguagem. Isso implicará no revisionismo
histórico e etnográfico das pesquisas que cunharam os chamados
“povos primitivos” - entendendo os povos que habitavam a floresta
como aqueles que estavam em estágio anterior do desenvolvimento
humano. Têm-se então, uma ruptura com a autoridade do autor, visto
antes como verdade absoluta, dogma insofismável do evolucionismo
cultural.
maior atenção
dada a escrita;
Klinger(2007), pede
atenção para o que é produzido no campo etnográfico, evitando-se
com isso, incorrer nos mesmos excessos dos eventos que custaram caro
para o campo antropológico. O novo percurso da Antropologia do
século XX deve considerar a antropologia interpretativa, ou para
usar um termo cunhado por Clifford Geertz, uma “antropologia do
outro”. Essa nova perspectiva reescreve uma etnografia que opera na
auto-reflexão, se recusando, sobretudo, ofertar uma interpretação
que não seja do “outro”.
maior preocupação com
o momento histórico do encontro etnográfico
Segundo Guimarães
(2006), a etnografia se caracteriza pela noção de oralidade,
espacialidade, alteridade e inconsciência, opondo-se à
historiografia que se configura a partir da escrita, a temporalidade,
a identidade e a consciência. A etnografia entendido como projeto
de conhecimento sobre grupos sociais, as culturas, etc., objetiva a
especulação do conhecimento de um determinado grupo social sem, no
entanto, se deter a forma de como esse conhecimento foi adquirido. Em
virtude disso, as experiências de campo perdem muito de suas
características, como por exemplo, a historicidade. O antropólogo,
por ocasião de seu trabalho etnográfico, se vê obrigado a detalhar
em que nível sua escrita foi elaborada: se descritiva,
interpretativa ou explicativa (SILVA, 2006).
compreensão de que a
razão humana (tão enfaticamente exaltada pelo
movimento iluminista) também tem suas limitações.
Como observa Silva(2006),
Clifford Geertz foi o responsável por inserir a hermenêutica
buscando interpretar a cultura como um texto produzido por homens,
uma produção social, sendo, não obstante, papel da antropologia
executar sua exegese. Nesse sentido, a antropologia interpretativa
configura uma leitura “sob os ombros do nativo,” isto é, a visão
que este faz de sua própria cultura, sem o olhar preconceituoso e
míope do colonizador. A partir da década de 1980, a prática de ver
a cultura como um texto e a antropologia como sua interpretação,
entre os antropólogos norte-americanos, contribuiu para perceber o
texto etnográfico como objeto de investigação. O que o paradigma
hermenêutico propôs foi redirecionar a análise tanto para o
observador, quanto para os estudos etnográficos, sobretudo,
preocupava-se com a escrita sobre essas culturas, a produção
textual e sua descontextualização, necessitando de uma análise
interpretativa. No entender de Azan Júnior (2004), é preciso
fomentar os debates sobre a antropologia interpretativa, resultando
numa relação dialógica que levem ao caminho de uma hermenêutica
com a antropologia, a partir da composição dialética entre
objetividade e subjetividade.
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