O que é um líder religioso?





 
A reflexão inicial que se faz é compreender o conceito de líderança religiosa. Seria possível estabelecer uma tipologia entre os diferentes líderes religiosos? As religiões conseguem agregar multidões em torno de seus sistemas institucionais e essas pessoas em geral tem seus comportamentos e regras orientadas por um líder de natureza religiosa ou secular.


As organizações religiosas necessitam de legitimação para seu funcionamento, de modo que podem variar nas formas carismática, tradicional e racional. Aqui reside a importância da liderança como figura central, pois necessita-se que o líder além de legítimo, tenha domínio sobre o grupo que lidera. O domínio refere-se a construção do discurso que legitima tanto a autoridade local quanto a hierarquia na qual se vincula o discurso.

Assim, por exemplo, procura-se justificar a organização religiosa por meio do discurso de sua “origem divina”, ou do compartilhamento de suas “verdades universais” aos fiéis. Essas estratégias logram êxito na maioria das organizações religiosas, pois conseguem, na maioria das vezes, produzir unidade interna do grupo tanto na esfera das representações como também nas práticas religiosas. Verifica-se que essa capacidade de integrar os indivíduos é maior entre organizações religiosas de pequeno porte.



A uniformização dos costumes do grupo é mais visível nessas organizações onde o modus vivendi é reforçada pela liderança religiosa: a maneira como o indivíduo deve falar, os alimentos que podem ser consumidos a partir do pertencimento do grupo religioso, a forma adequada de lazer, modo de se vestir, etc. Dependendo da organização religiosa, os comportamentos sociais e particulares devem adequar-se à doutrina religiosa que se professa, tendo o indivíduo que optar entre a unificação da fé comum do grupo ou sua fragmentação que pode resultar no afastamento (PASSOS, 2006).





No Brasil, muitos movimentos sociais de contestação tiveram forte conteúdo religioso, sem no entanto, suas frentes serem necessariamente uma liderança religiosa. Outros movimentos de fundo social, a exemplo dos liderados por Antônio Conselheiro, na Bahia, ou por Cícero Romão Batista, em Juazeiro, foram liderados por um beato e um sacerdote, respectivamente. Mas, afinal, o que faz de um homem comum ganhar o status de religioso e líder? Qual o papel desempenhado por esses homens e o que a sociedade espera de suas atribuições?

Seguirei o raciocínio de Stark (2008), na busca para compreender essas diferentes categorias a partir de uma definição genérica chamada de especialista religioso. Segundo esses autores, um especialista religioso é alguém que se especializou em administrar o sagrado intermediando entre o mundo transcendental e as necessidades humanas. A relação entre um líder religioso com seu público se dá por meio de trocas sociais. Ora, os indivíduos não vivem isolados uns dos outros, mas em constante interação e em algum momento irão se relacionar participando ativamente das trocas sociais. Essas trocas, são efetivadas por meio de ganhos (recompensa), ou perdas (compensadores gerais).



Os compensadores gerais são pressuposições que se baseiam em argumentos sobrenaturais. Assim, os ritos de passagem, os símbolos religiosos, as vestimentas e outros objetos considerados sagrados só poderão ser administrado por alguém especializado nesses assuntos. Desse modo, embora qualquer homem normal tenha condições de batizar um indivíduo, não o pode fazê-lo na condição de leigo. A ação é interditada, pois o grupo social não lhe confere a legitimidade.




A eficácia do batismo, por exemplo, só é realizada por meio de uma pessoa especializada,
que veste trajes exóticos e faz uso de palavras diferenciadas e gestos diferenciados. O local também é diferenciado para a realização do rito (batismo, casamento, funeral, etc.). Nesse sentido, o líder religioso é um indivíduo que se diferencia do público geral e é apresentado sob diferentes status social como um guru, pastor, freira, sacerdote celta, wicca, aiatolá, lama, babalorixá, médium, xamã, beato, monge, frade, bispo, pastor, papa, patriarca, profeta, místico, curandeiro, etc.






REFERÊNCIAS


STARK, Rodney. Uma teoria da religião. São Paulo: Paulinas, 2008.

PASSOS, João D. Como a religião se organiza: tipos e processos. São Paulo: Paulinas, 2006.

 

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