Antropologia social dinâmica

No estudo sobre Antropologia Social Dinâmica, dois importantes precursores se destacam: Gluckman e Barthes. Ambos se empenharam na ascensão da Antropologia Social, cada um com características próprias.

Herman Max Gluckman, foi um importante e renomado antropólogo social britânico. Em 1949 tornou-se o primeiro professor de Antropologia Social da Universidade de Manchester e fundou a Escola de Antropologia de Manchester. Nascido e criado na África do Sul, Gluckman optou pela cidadania britânica, pois não concordava com o apartheid dominante na África. Aluno de Evans-Pritchard e Radcliffe-Brown, formou-se na universidade de Oxford, onde concluiu seu doutorado. Como antropólogo, desenvolveu estudos de campo em Zâmbia, entre os povos Lozi e Tonga. Analisando as relações existentes entre africanos e europeus, Gluckman percebe a existência de modos específicos de comportamentos, certificando-se de que os conflitos moldavam-se, dinamicamente, conduzidos pelos dois grupos étnicos opostos. O conflito, constatou Gluckman, ocupa um papel central nas relações sociais e este mesmo dinamismo também se verifica nas alianças e oposições entre grupos. Desse modo, divisão/fusão/aliança, além de ser fomentada pelo conflito, forma uma brochura peculiar da estrutura social que está condicionada pelas relações situacionais.

Para estudar os problemas sociais nas sociedades modernas, Gluckman passou a questionar os pressupostos teóricos de seus professores no que diz respeito ao método estrutural-funcionalista. Afirmava que a teoria funcionalista não era suficiente para compreensão dos conflitos e das competições entre indivíduos. "Ele passou a fazer estudos de casos e análises das interações entre atores sociais"(PAULA XAVIER, 2009:106). O estudo de casos é uma das características da Escola de Manchester que deduz regras e suposições por meio de análises sobre interações sociais.

Em sua obra intitulada "Os rituais de rebelião no Sudoeste da África", Gluckman introduziu a ideia de rituais desfazendo, desse modo, a ambiguidade entre revolução e rebelião, como sendo os dois uma única coisa. Gluckman observou que esses rituais de rebelião ocorriam em sociedades de ordem social estável e contribuíam para a manutenção do poder, pois que reuniam os indivíduos em um momento em que as diferenças e as disputas eram anestesiadas pelo poder de integração que a força social tem, direcionando a ênfase dos conflitos para outro local: a unidade social. Outras importantes obras que enfatiza o ritual são: Ordem e rebelião na África tribal; "Política, direito e ritual na sociedade tribal" (1965), entre outras.

Frederik Barthes - Nascido em Lepzig, na Alemanha, sua carreira ganhou notabilidade como professor de Antropologia Social da Universidade de Bergen, vindo a ser o fundador do Departamento de Antropologia Social. Barthes, atualmente é professor da Universidade de Boston. Em sua obra intitulada "Grupos étnicos e suas fronteiras", Barthes faz uma análise sobre a etnicidade (entendido como grupos étnicos organizados) e a existências de pertinências das fronteiras (movências e intercâmbio) que limitam as posições dos indivíduos nas trocas de relações. A delimitação dessas fronteiras baseiam-se em estatutos étnicos. O autor destaca três pontos principais dos grupos étnicos: 1- as categorias de identificação dos grupos; 2- existência de processos que geram e mantêm esses grupos; 3- ênfase nas fronteiras e em sua legitimação.

Características da Antropologia Dinâmica - Gluckman (1987) e Barth (2000).




Uma característica da antropologia de Frederik Gluckman é o estudo de caso que envolvia análises de instâncias de interação social para deduzir regras e suposições. Barthes, por sua vez observa através das fronteiras que os grupos étnicos não são estáticos. Mas ao contrário, na dinâmica das relações entre os grupos, ocorrerão trocas, rupturas e permanências. Essa interação, além de definir a identidade do grupo são responsáveis também pela exclusão e inclusão sendo, desse modo, decisivo para verificar quem fica e quem sai. Para a compreensão das dinâmicas desses grupos étnicos, Barthes salienta algumas características que são muito significantes para o grupo: "[...] características tais como vestimenta, língua, forma das casas ou estilo geral de vida [...], padrões de moralidade e excelência pelos quais as performances são julgadas." (POUTIGNAT, 1998: 32)

compreensão da antropologia desenvolvida por esses autores

No vídeo sobre o Estrutural-funcionalismo britânico (confira a baixo nas referências), destaque-se que mesmo dentro da Antropologia Social Britânica há perspectivas teóricas diferenciadas e cita como exemplo os trabalhos de Glukman e Barthes na compreensão dos diferentes tipos de sociedade, sua organização política e as diferenças culturais da África. Através dos estudos dos casos ampliados, de Glukman, o autor propõe uma nova interpretação sobre o conflito e a mudança social com ênfase nos rituais. Afastava-se, desse modo, do funcionalismo que concebe a sociedade como vários fragmentos culturais unidos formando um todo orgânico. Já, a orientação teórica de Barthes dinamiza os grupos étnicos e as fronteiras, sem os clássicos enfoques da aparência sobre a questão racial. A chave para a compreensão dos conflitos, segundo Barthes, está na análise das fronteiras existentes entre os diferentes grupos étnicos. As fronteiras revelam as semelhanças, mas também as diferenças.




REFERÊNCIAS


DIÁLOGOS ANTROPOOLÓGICOS. Disponível em http://dialogosantropologicos.blogspot.com.br/2010/08/fredrik-barth-grupos-etnicos-e-suas.html. Acesso em 22/Ago., de 2014.

MARTINS, Silvia. Estrutural Funcionalismo Britânico. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qyz9DOUOxZo. Acesso em 23/Ago., de 2014.

MAX GLUCKMAN. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Gluckman. Acesso em 21/ Ago., de 2014.

PAULA XAVIER, Juarez. T. Teorias Antropológicas. Curitiba: Iesd, 2009.

PEIRANO, Mariza. Rituais ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

POUTIGNAT, Philippe. Teorias da etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas fronteiras. São Paulo: Unesp, 1998.

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