Fenômenos da globalização e interculturalidade

           Fenômenos da globalização e interculturalidade



Segundo Garcia Canclini (2007), globalização pode ser entendida como: “conjunto de estratégias para realizar a hegemonia de conglomerados industriais, corporações financeiras, majors do cinema, da televisão, da música e da informática para apropriar-se dos recursos naturais e culturais, do trabalho, do ócio e do dinheiro dos países pobres” (GARCIA CANCLINI, 2007:29). O autor desenvolve sua análise a partir da perspectiva do imaginário compreendido como uma realidade imaginada por indivíduos, governos, empresas e cujo resultado desse imaginário coletivo, desenvolvem-se relações heterogêneas entre produção e consumo, países dependentes e países produtores preocupados em inserir seus bens de consumo em mercados mais amplos. O imaginário tem contribuído para a arquitetura da globalização. O autor, assegura que as políticas globalizadoras conseguem mobilizar um certo consenso coletivo por meio do imaginário local e nacional.
 
A inter-relação entre os fenômenos da globalização com a cultura, segundo Garcia Canclini (2007), é um fenômeno que se inicia em meados do século XX, com a acentuação de transformações do capitalismo, das inovações tecnológicas, acentuadas pelas diferenças entre as nações, diferenças econômicas, financeiras, migratórias e na comunicação. Esse novo período da globalização, diferencia-se dos períodos anteriores (colonialista, imperialista e da internacionalização da economia). O que se anuncia como globalização nos variados setores(comunicação, empresarial e consumo), produz uma relação inter-regional e intercultural com a Europa, a América do Norte e determinadas regiões da Ásia. Quando as sociedades abrem suas fronteiras para esses mercados de importações e exportações também são receptivas a circulação de mensagens e ideias ativando processos sociais de intercâmbio e assimilação cultural.
Outra análise que se propõe tratar sobre as relações e efeitos da globalização na percepção do fenômeno cultural revela que o século XX assiste a mercantilização, produção e venda de bens culturais. Valorização das culturas ou consciência de que determinada cultura, seus bens e instrumentos que no fundo são referenciais de um povo, podem ser consumidos e descartados? A divisão social do trabalho quebra a capacidade criadora e estética da cultura, sobrepondo o modo de produção capitalista, repetitivo, em série e quantidade, mas não-criadora.
Albuquerque (2010), celebra o fato das populações nativas resistirem ao processo de ocidentalização cultural, através da criação de estratégias políticas e culturais. Essa investidura contribui tanto para oferecer à Antropologia novos objetos de pesquisa, quanto para a Antropologia desenvolver seu papel de mediadora entre as culturas. Para Garcia Canclini (2005 apud Albuquerque, 2010. p. 2-3), a Antropologia tem recebido importantes contribuições para seu rejuvenescimento enquanto disciplina, autores como Abélès, Apadurai e James Clifford têm se esforçado no desenvolvimento de uma nova concepção de cultura, como um sistema de relações de sentido. Ainda na esteira do pensamento de Canclini, Albuquerque afirma que a interculturalidade é duplamente o caminho mais revelador e questionador para se pensar a realidade cultural. A interculturalidade envolve considerações sobre as interações e alteridade entre os povos, pois não se pode confundir interculturalidade com multiculturalismo (reconhecimento strito senso de diferenças culturais). Ao contrário do multiculturalismo a interculturalidade pressupõe que a afirmação das diferenças culturais constitui um jogo de poder que se observa nas comparações entre o tradicional e o moderno, hibridização cultural, sincretismos e simulacros.
Através da perspectiva da interculturalidade, se anuncia o desdobramento de como lidar com as diferenças, as questões de igualdade/desigualdade, inclusão/exclusão, bem como os processos de exploração intercultural. Trata-se de desenvolver uma superação do evolucionismo cultural, relativizando o olhar etnográfico na descrição da cultura. É, pois, a construção de um olhar diacrônico e não-hegemônico, considerando que cada cultura tem seus traços identitários, deve ser pensado como uma relação dialógica, um ato social em que os conteúdos culturais(políticos, rituais, etc), embora diverso, sejam compreendidos como identidade.


                             




ALBUQUERQUE, Marcos. A. S. A intenção Pankararu: a dança dos praiás como tradução intercultural na cidade de São Paulo. [cadernos do leme, vol. 2. nº 1. p. 2-33]. Campina Grande: s. n. 2010.


GARCIA CANCLINI, Néstor. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2007.
































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