Marshall Sahlins - características e obra
Observações sobre as características da produção
acadêmica de Marshall Sahlins.
SAHLINS, Marshall. D. História e cultura. Rio de Janeiro: JorgenZahar, 2006.
SAHLINS, Marshall. D. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Na apresentação à
edição brasileira do livro História e cultura, de Marshall
Sahlins, Gilberto Velho, professor de Antropologia social e membro da
Academia Brasileira de Ciências do Rio de Janeiro, classifica
Marshall Sahlins como escritor versátil e um importante antropólogo
que tem muito de suas obras publicadas no Brasil. Escritor
incansável, dedica-se há mais de 40 anos em elucidar questões da
Antropologia contemporânea, numa trajetória diversificada, revisões
de perspectivas, mas sobretudo, despertando reflexões provocantes no
cenário acadêmico.1
Um importante trabalho de Marshall Sahlins para a Antropologia pode
ser conferido em Sociedades tribais. Nesta obra o autor critica a
imaginação ocidental por cunhar nos povos que habitam a natureza e
com ela se relaciona, a insígnia de “bárbaro”, “selvagem”,
“primitivo”. “satisfeitos com nós mesmos, desprezamos os
primitivos por a eles faltarem nossas vantagens. […] e se
estivermos nos sentindo liberais, podemos até conceder que eles
tenham alguma coisa a nos ensinar, talvez sobre o respeito ao meio
ambiente!” (KUPER, 2008: 11).
Especulando as
tribos da Melanésia e Polinésia, em seu trabalho seminal, Marshall
Sahlins elucidou como se dava a mudança de sistemas políticos com
base em um parentesco para estados. Sahlins já havia abandonado o
materialismo e passara a tratar a cultura como um sistema simbólico.
Na década de 1978, Sahlins lançou uma explicação sobre a economia
doméstica de variados povos como os bosquímanos, os !Kung, Hazda,
Pigmeus, grupos inuit, aborígenes e caçadores-coletores da
Amazônia, enfatizando o modo de produção familiar, em que era
produzido o suficiente para a subsistência familiar. Aclamou ainda a
originalidade dos !Kung que em sua economia praticava a divisão do
trabalho.2
A abundância da economia doméstica, não é uma compulsividade
gerada pela escassez do meio, assinala Sahlins, mas resultado de
padrões ortodoxos de produção (MOURA, 2004). Por analogia, Sahlins
desfaz o engodo de que os “selvagens” vivem em estado de guerra,
devido a inexistência de uma concepção de Estado que
salvaguardasse a paz entre os povos. Sahlins comunica que em seu
trabalho etnográfico testificou que embora a eminência de uma
guerra fosse constante, ela jamais se concretizava. A sabedoria
tribal, os laços parentais sempre se convertiam em tratados de paz,
efetivando o conflito na ordem do ritual e cerimônias (FLORENTINO;
GOÉS, 1997).
Um dos trabalhos
mais polêmicos de Sahlins refere-se a associações que o autor fez
entre um mito Transcendente dos povos havaianos por ocasião da
chegada do britânico, capitão James Cook. Nesse trabalho, Sahlins
discorrendo sobre o conceito de mitopráxis explica que havia entre
os havaianos um mito cosmológico sobre o deus Lono que para os
nativos a crença nessa mitologia foi cumprida com a chegada de Cook
às ilhas (SILVA, 2002). [“...] os eventos da visita de Cook ao
arquipélago do Havaí em 1778 e 1779, com ênfase na evidência
documental de que ele foi saudado na ilha como uma personificação
do deus do ano novo, Lono” (SAHLINS, 2001: 34). O autor descreve a
chegada de Cook como a parusia de uma profecia que acabara de se
realizar. Outro impacto advindo das relações entre havaianos e
britânicos, é o tabu observado por esses povos, e a
dessacralização, profanação desses costumes pelos britânicos,
como por exemplo a presença de mulheres durante as refeições.
Com essa narrativa,
Sahlins (2003) considera que o mito havaiano foi a moldura necessária
para enquadrar o capitão James Cook numa personificação
transcendental. O imaginário dos havaianos viram atracar em suas
ilhas, do além horizonte celestial, da qual lhe falavam os antigos
chefes da tribo, a figura do capitão Cook. Agora, Lono (SAHLINS,
2003).Apesar de
criticado, Marshall Sahlins ilustra os processos simbólicos e a
mitopráxis dos povos caçadores, destacando ainda a produção
econômica substantivista frente ao modelo ocidental.
REFERÊNCIAS
FLORENTINO,
Manolo; GÓES, José. R. A paz das cenzalas: famílias
escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790 – c. 1850.
Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1997.
KUPER, Adam.
A reinvenção da sociedade primitiva: transformações de um
mito. Recife: Ed. universidade da UFPE, 2008.
MOURA, Mauro.
Castelo-Branco. Os mercadores, os templos e a filosofia: Marx e a
religiosidade. Porto Alegre: EDIPUCRGS, 2004.
SAHLINS, Marshall. D. História e cultura. Rio de Janeiro: JorgenZahar, 2006.
SAHLINS, Marshall. D. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
SAHLINS,
Marshall. D. Como pensamos os “nativos”: sobre o capitão
Cook, por exemplo. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo,
2001.
SILVA,
Cristhian. T. Sobre a interpretação antropológica: Sahlins,
Obeyesekere e a racionalidade havaiana. (Revista de Antropologia.
Vol. 45. nº. 02.). Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-7701200200020000.
Acesso em 13/ Set./ 14.
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