Teoria sociológica clássica e microssociologia

Problematize as aproximações e distanciamentos entre a teoria sociológica clássica e a microssociologia desenvolvida pelos interacionistas simbólicos.
 O surgimento de uma teoria sociológica clássica está ligado ao surgimento da própria sociologia como campo diferenciado de outros saberes e seu início remota ao século XIX, cujas correntes de pensamento sempre esteve ligada a sociologia clássica de Tonnies, Durkheim, Weber, Marx e a Escola de Chicago. (ORTIZ, 2013). A teoria sociológica clássica, no campo das discussões sobre o indivíduo e sociedade, está situada em grande medida, graças aos trabalhos desenvolvidos por Emilie Durkheim e Max Weber. Apesar de Tratar-se de teorias e metodologias diferentes, esses dois clássicos da sociologia inauguram o pensamento crítico, de cunho sociológico, rompendo fortemente de como se pensava a sociedade e os problemas sociais do século XVII ao XVIII: “O pensamento e as ações nada mais eram do que produções de um sujeito de vontade, dotado de interesses, e que estava a todo instante buscando a melhor estratégia para satisfazer as suas necessidades”(BETTENCOURT, 2014:12). Durkheim propôs o inverso, os pensamentos e as ações eram algo exterior ao indivíduo, estava fora do sujeito social, independia do sujeito, uma vez que foi instituído pela coletividade. A perspectiva de Durkheim redirecionava o olhar para o coletivo. Por outro lado, na perspectiva weberiana, a sociologia deveria focar os sentidos que os indivíduos atribuem aos seus pensamentos e ações. Desse modo, a chave para compreender a vida social são os significados e não a experiência interior. Weber defende que os sentidos são construções sociais em que os indivíduos atribuem valores e significados para a vida social.1


No início do século XIX, a produção sociológica, sobretudo nos EUA, se volta para uma perspectiva interacionista, onde a vida social (pensamentos e ações) é percebida como um conjunto de processos interativos. A interação social entre os indivíduos é o motor da vida social conforme defendiam Marx e Simmel. A ideia central do interacionismo é de que a interação é mediada conforme os significados que os indivíduos atribuem à ação por meio dos símbolos. Segundo essa concepção, em algum momento os indivíduos de uma sociedade entrarão em contatos entre si por meio de trocas sociais resultando numa interação. Assim, os gestos e comportamentos construirão significados, pois nenhuma ação é neutra, e produzirão os símbolos a partir das dinâmicas sociais.2



Interacionismo simbólico:

O interacionismo simbólico teve influência de vários pensadores que contribuíram para sua difusão. Entre os precursores destaque-se Georg Herbert Mead, que teve seu pensamento influenciado tanto por Charles Darwin quanto Wundt. De Darwin, Mead assimilou a ideia de adaptação da espécie ao meio em que vive, onde para manter-se vivos, os animais devem instintivamente se adaptarem ao ambiente. Mead apropriando-se dessa premissa evolucionista, enxertou-a no campo das interações humanas, descartando o instinto e afirmando que a adaptação humana está relacionado com a cultura, isto é, a adaptação dos indivíduos na sociedade é parte de um aprendizado. Mead também tomou emprestado muitas das ideias da psicologia experimental de Wundt, como a mente e o self expresso na linguagem simbólica, gestos convencionais e ensaios de imaginação.

Até aqui se viu o quanto é expressivo o interacionismo simbólico para a compreensão dos processos e interações sociais, além de Mead outros pensadores contribuíram para sua formação. É possível afirmar que a produção teórica de autores como William James, John Dewey e Charles Cooley foram cruciais para a construção do interacionismo simbólico. Com Wlliam James, por exemplo, foi assimilada a importância do simbolismo na ação humana. De Dewey foi absorvido a ideia segundo a qual, a mente humana está em constante transformação, que ele chama de processo permanente. Já para Cooley, foi absorvido o conceito de “eu espelho”. O “eu espelho” parte da proposição de que no jogo das interações, os indivíduos se percebem como objetos um do outro e diante do olhar do outro se efetivam as interpretações e interações: “pois, somente nós possuímos capacidade de atribuir sentido aos nossos gestos, assumirmos o papel do outro numa interação, podendo ensaiar nosso comportamento previamente, na imaginação, antes de expressá-lo publicamente” (BITTENCOURT, 2004: 15). Diferente dos animais, que agem instintivamente, a ação humana pode ser refletida, modificada e carregada de significados, legitimando a existência de uma linguagem motivada pelo símbolo.

Outras influências importantes foram tomadas de William I. Thomas, da Escola de Chicago que enfatizava a influência da cultua na vida das pessoas e principalmente pelo desenvolvimento do conceito de “definição de situação”, no sentido de que os indivíduos constantemente criam e recriam racionalmente suas ações num jogo das interações. A título de ilustração, uma definição de situação pode ser percebida no caso em que um empregador ou chefe tenta mudar uma situação definida pelo ambiente de trabalho entre ele e sua secretária. Espera-se que as relações entre ambos seja de respeito, mas digamos que o patrão queira definir outra situação que não seja a de trabalho por meio do assédio sexual. Agindo dessa maneira, o empregador busca mudar uma definição de situação e passa a definir uma outra situação: de relação de trabalho para intimidade sexual com sua funcionária, podendo sua ação ser correspondida (realinhada) ou não. Os agentes participantes da ação (patrão e empregada) devem reorientar suas ações e comportamentos caso as expectativas geradas não se cumpram.3

Outra importante contribuição ao interacionismo simbólico foram os trabalhos exploratórios de Blummer. Sua maior contribuição advém do desenvolvimento de uma metodologia que interpretasse os significados das ações no mundo social. Em seu trabalho, Blummer se distanciará da perspectiva de Mead, por vê nela uma filosofia completa da ação carecendo de método específico que compreendesse os processos interacionais. Blummer se preocupou mais em interpretar a ação, os significados e o compartilhamento entre os indivíduos.4



“Performance” e “Papeis Sociais” para Goffman


Para Goffman, a performance deve ser compreendida a partir do conceito de “realização dramática”. A realização dramática é a teatralização dos indivíduos por meio da encenação de gestos com o objetivo de causar no espectador uma determinada impressão, uma qualidade que é sua. Havendo necessidade que sua ação seja reconhecida como significativa, nem deixem dúvidas sobre a imagem que transmite, os gestos do interlocutor confirmam sua ação em sincronia com a auto-imagem que se pretende transmitir. A performance funciona como uma referência sobre as qualidades individuais, a maneira de se comportar em determinado contexto. É o desempenho de quem descreve sua própria ação.5

Outro conceito desenvolvido pela dramaturgia de Goffman é o de papel social. Goffman relaciona papel com representações, rosto, regiões frontais, regiões dorsais. A sociedade é um palco em que os atores sociais representam, fora dos bastidores, papeis e competências (BURKE, 2002). Para Goffman, a representação do eu pode ser vislumbrado a partir do conceito de indivíduo cínico que é aquele que não crê no papel que desempenha. O indivíduo cínico procura manipular a imagem que representa e seu discurso é do tipo descompromissado, cínico. Cria uma ilusão coletiva sobre sua pessoa por meio de estratégias racionais. Já o indivíduo sincero é o oposto do cínico, pois acredita na ilusão criada pela sua representação. É assim, por exemplo, quando um oficial noviço repete os gestos e comandos de seu grupo ao incorporar o ethos daquela instituição como legítima e significativa. O jovem soldado passa a representar seus papeis e o faz interagindo e persuadindo o público daquilo que ele está convencido (GONÇALVES, 2005).

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, João. Sociologia 3. [material didático]. Maceió: Edufal. 2014.

BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Unesp, 2002.

GONÇALVES, Benjamim. Et al. E. Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Instituto Ethos, 2005.

JOHNSON, Allan. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

ORTIZ, Renato. As Ciências Sociais e a Cultura. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ts/v14n1/v14n01a02.pdf. Acesso em 21/05/13

1Op. cit.

2Idem ibidem

3Idem ibidem

4Idem ibidem

5Idem ibidem


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ressurreição, reencarnação, ancestralidade e o nada

Durkheim - a religião é um fato social

Antropologia Interpretativa