Expedições científicas pelo Brasil
Enquanto durante a primeira fase das expedições no Brasil a
preocupação principal concentrava-se com o interior do país como, por exemplo,
as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e cujo programa era acompanhar
o desenvolvimento de infraestrutura necessária para combater quadros de
epidemia de malária, na segunda fase das expedições, mais duradoura e de
maiores investimentos, tinham como objetivo explorar o quadro nosológico, expandindo
sua produção de medicamentos e modernização (EXPEDIÇÕES HISTÓRICAS, 2015).
Desde sua fundação no ano de 1900, o Instituto Oswaldo cruz
se articulou como uma instituição de atividade de pesquisa, centro de medicina experimental,
centro produtivo de remédios e ao ensino de microbiologia. As expedições
comandadas por Oswaldo Cruz (diretor do Instituto), em parceria com o governo
federal, além de contribuírem para combater os surtos epidemiológicos, sinalizava
a necessidade de ações políticas para modernização do país nos setores
energéticos, ferroviários e áreas portuárias. O contexto social da época, os
costumes e hábitos assim como as relações entre os indivíduos emergiam por
mudanças tanto na estrutura burocrática quanto na modernização dos órgãos
públicos e da cartografia do território. Além das expedições promovidas pelo
Instituto Oswaldo Cruz, com Carlos Chagas, Belizário Pena, Arthur Neiva, etc., outras
expedições, igualmente importantes como a comandada pela Comissão Geológica de
São Paulo e outra encabeçada por Cândido Mariano Rondon foram seminais para
determinar um saber próprio sobre o Brasil, mas também para integrar
socioeconomicamente o interior do país (MELLO; PIRES-ALVES, 2015).
Os expedicionários concentraram suas investigações nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Além de importante registro
sobre a saúde no Brasil, essas expedições relatam em suas pesquisas a situação
geográfica do território, seus aspectos econômicos e sociais, bem como a
transcrição de práticas culturais dos lugares mencionados. Os registros dos
expedicionários foram de importância crucial para impulsionar políticas públicas
e debates sobre a real situação da sociedade brasileira. É possível ainda perceber
a existência de desigualdades entre a vida no campo e nas cidades. A fome, o
estado de pobreza e escassez de assistência de saúde e educação revelaram as
disparidades regionais. Mesmo aqueles que moravam nas grandes cidades se
impressionaram com os relatos dos viajantes ao saberem da situação de
sobrevivência e condições de saúde no interior do país (EXPEDIÇÕES HISTÓRICAS,
2015).
1.
a contribuição de Nina
Rodrigues para o estudo sobre o negro na sociedade brasileira.
Os trabalhos do médico Raimundo Nina
Rodrigues, formado na Escola de Medicina da Bahia, são de fundamental
importância literária para o estudo sobre o negro e o mulato no Brasil, como
assinalam diferentes autores. Sua obra é considerada por muitos, um trabalho
inovador no campo dos estudos sobre o negro no Brasil, pois apresenta um novo
olhar sobre os africanos, reconhecendo sua importância histórica na formação do
povo brasileiro. Em sua obra “Os africanos no Brasil”, o autor centraliza seu
pensamento sobre os estudos das raças humanas, numa perspectiva da medicina
Legal e estudos sanitaristas, mas também sobre problemas sociais advindos do
projeto de modernização dos centros urbanos. Assim, no pós-abolição do sistema
escravocrata, Nina Rodrigues critica o fato do negro não ter sido incorporado
ao sistema republicano em pé de igualdade. A imigração forçada do campo para a
cidade legou à população negra uma dura realidade: sem moradia, aglomeravam-se nos subúrbios e sem direito ao uso da terra,
à escolaridade e acorrentados à miséria extrema. Sem mão de obra
especializada essas famílias passaram a serem vistas como uma ameaça a ordem e
ao progresso (O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL).
Podem-se acrescentar às
contribuições de Nina Rodrigues para o estudo sobre o negro no Brasil, a
crítica que o autor faz a literatura nacionalista que supervaloriza o elemento
indígena em detrimento do papel social que os negros desempenhavam no Brasil.
Em sua obra póstuma é possível perceber um contexto social hierárquico entre
brancos, negros e mulatos, assim como a dificuldade que a escravidão impõe aos
africanos de se rebelarem como nação (dentro e fora da África). Outro
importante aspecto apontado por Nina Rodrigues, diz respeito aos elementos
culturais dos africanos que foram introduzidos no cenário brasileiro. Nina
Rodrigues encoraja novos estudos que contemplem sobre os diferentes povos
transplantados da África, as revoltas por eles organizadas e importantes
elementos da cultura e religiosidade do povo africano. Aliás, sobre esse
aspecto Nina Rodrigues veio a ser referência nos estudos da religião
afrodescendente. Essas práticas, segundo o autor, mantiveram-se conservadas no
Brasil graças às misturas de crenças animistas e do fetichismo religioso,
interpenetrando com elementos do catolicismo. (O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA NO
BRASIL).
REFERÊNCIAS
EXPEDIÇÕES_HISTÓRICAS._Disponível_em_http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=289.
Acesso em 26 de março de 2015.
MELLO,
Maria. T. V. B. ; PIRES-ALVES,
Fernando.A. Expedições científicas,
fotografia e intenção documentária: as viagens do Instituto Oswaldo Cruz
(1911-1913). Disponível em_http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702009000500008&lang=pt.
Acesso em 28 de março de 2015.
O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA NO
BRASIL. Disponível em http://ava.ead.ufal.br/course/view.php?id=2251.
Acesso em 28 de março de 2015.
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