Nação e ideologia na identidade do povo brasileiro
SOBRE A IDEIA DO NACIONALISMO
A questão
conceitual sobre a identidade nacional brasileira, o senso de patriotismo ou
pertencimento ao que se convencionou chamar de Estado-nação, cultura
brasileira, pátria ou outras variações é algo que tem merecida atenção e
dividido opiniões de muitos estudiosos que tanto apontam a existência de
valores que são partilhados, como também a presença de diferentes consensos e
valores. Desde o final do século XIX, muitos estudos têm dedicado especial
atenção à dinâmica dada ao conceito de nação brasileira. Alguns excluem a ideia
de identidade nacional brasileira enquanto outros reconhecem que houve certa
assimilação pela imprensa e por significativa parcela da população. Desse modo,
a maioria dos autores se divide entre os que defendem sua constituição e os que
manifestam preocupação em preservar tal identidade ( DEBRUN, 2015).
No rol destas
discussões um dos fatores que contribuíram na construção da identidade nacional
brasileira foi a articulação de um discurso ideológico que integrasse a
diversidade de etnias, grupos linguísticos, famílias e práticas culturais do
Brasil ao interesse geral. No entanto, esse
tipo de articulação de uma pátria, nação, oculta a existência de lutas de
classes, como uma tentativa de manipular o conflito por meio de um discurso
ideológico de pertencimento. Outra acepção que foi encarnada na construção da
identidade nacional brasileira foi a construção de uma brasilidade ambígua, sem
grandes tensões entre a esfera pública e a esfera privada, mas pairada na
conciliação das diferenças. De um lado a noção de nacional-popular (cultura
endógena) vista como residual e folclorista, de outro a identidade cosmopolita,
impostas por grupos dominadores como a igreja, o exército e o Estado,
caracterizados como cultura nacional ou pseudo-identidade que floresceram
através do sufocamento do nacional-popular. Nesse ponto se verifica a
existência de duas culturas: uma voltada para as camadas pobres e outra para as
elites dominantes, ambas constituindo o que se chamou de maneira abrangente,
identidade nacional brasileira. Assinale-se também a influência de muitos
escritores ideológicos do século XIX que descreveram um caráter global em suas
obras sobre a identidade nacional brasileira, ou como elemento setorial, no
âmbito da cultura, ou afirmando diferenças culturais. De modo geral, esses
autores contribuíram para fomentar um campo estrutural onde são destacadas
posições políticas e culturais hegemônicos (DEBRUN, 2015).
TRAJETÓRIAS DE MANUEL BOMFIM
Um
dos autores que dedicou importante estudo sobre o pensamento social brasileiro,
antes da década de 1930, destaque-se Manoel Bomfim. O valor de sua obra está em
se contrapor às teorias racistas e ao ambientalismo sem ambiguidades e
hibridismos. Bomfim não condescendia com a construção de uma ideia de
superioridade europeia frente ao contexto de descobrimento e dominação da
colônia, como também não assimilava construções deterministas como o biológico
e o geográfico, nem a concepção de História linear que justificassem
supostamente tal superioridade. Além de criticar o olhar de historiadores e
memoristas sobre o país, um olhar, sobretudo vertical “de cima para baixo”, o
autor esclarece que a construção de uma identidade nacional pode ser vista por
diferentes ângulos, inclusive com a própria capacidade que os povos dominados têm
de construir e contar sua história partindo de uma visão de dentro (RODRIGUES,
2015a). Com isso, Manoel Bomfim identificando no seio das relações humanas, elementos
constitutivos como a existência de lutas de poder, desigualdades e a subjugação
da maioria a uma minoria dominadora que oprime. Bomfim se distancia do
Darwinismo social, do racialismo gobineuniano, do determinismo de Buckle e o evolucionismo
racialista. O autor esclarece que as dificuldades de criar uma vida pacífica no
Brasil, com igualdade de direitos, avanços técnico-científicos, está historicamente
relacionado com o parasitismo social dos europeus que se caracterizou pela
exploração da mão de obra da colônia, o enriquecimento da corte e o conservadorismo como sendo
heranças coloniais. Bomfim observa a Europa como centro difusor de um sistema
conservador das desigualdades sociais por meio da imposição de seu poderio
econômico e militar sobre os povos conquistados. Essas razões fazem da análise
sociológica de Bomfim um estudo singular para compreensão da formação social do
Brasil, ao direcionar seu olhar sobre a situação de dependência do país enfatizando
as relações entre os povos, o entrechoque de culturas distintas, como principal
motor do atraso político e econômico das Américas em seu estágio de
desenvolvimento, e não no desenvolvimento da mistura dos vários povos, na
hereditariedade, da raça, das condições climáticas ou do impacto do meio
geográfico como afirmaram aqueles que lhe precederam.
REFERÊNCIAS
DEBRUN,_Michel._A_identidade_nacional_brasileira._Disponível_em_http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/110816/mod_resource/content/1/A%20identidade%20nacional%20brasileira.pdf. Acesso em 01
de Abril de 2015.
RODRIGUES, Fernando. J. Mudanças do Brasil
no final do séc. XIX e a obra de Manoel_Bomfim._Disponível_em_https://www.youtube.com/watch?v=jPUQn6ERWC8&feature=youtu.be. Acesso em 31 de
março de 2015.
RODRIGUES, Fernando. Pensamento social brasileiro. s.l.,
s.n., 2015. [livro para EAD – sociologia 4].
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