As principais contribuições dos Estudos de Comunidades no Brasil para a Antropoloiga



A característica mais geral dos estudos antropológicos sobre a etnologia indígena repousa na premissa de que os estudos sobre as comunidades indígenas permitiram a continuidade da Tradição das Ciências Sociais. Isso foi possível graças ao trabalho realizado pelos antropólogos e a utilização do método etnográfico. Havia necessidade de uma metodologia que fornecesse uma compreensão mais subjetiva da realidade social das populações indígenas, mas que não fosse tão abrangente quanto a macrossociologia, que se preocupava com questões nacionais muito amplas. Para compreender a vida social dos indígenas, sem as pré-noções e preconceitos fazia-se necessário pensar e agir como um índio, isto é, despojar-se da própria cultura recebida. Isso só seria realizável por meio de estudos que estivessem pautados na observação direta, in loco, participando de uma relação ad intra, de dentro para fora, e não o contrário. Entre as contribuições mais significativas que os estudos de comunidades no Brasil legaram à disciplina antropológica destaque-se o realismo dos relatos sobre as condições de vida, as situações precárias de existência e total falta de infraestrutura de serviços essenciais como saúde, educação e moradia. Sem maquiar a realidade, muitos profissionais como, por exemplo, o médico e o agrônomo que estavam inseridos naquele contexto social, ofereceram informações confiáveis e seguras sobre os arranjos sociais do interior, da vida no campo dessas populações. Os estudos das comunidades revelaram muito do cotidiano indígena, tanto do lado humano quanto da dramática luta para não sucumbirem enquanto identidade étnica.

A partir desse estado de coisas, os estudos das comunidades indígenas contribuíram significativamente para o desenvolvimento de laudos, realização de pesquisas e produção de relatórios, instrumentos muito utilizado pela disciplina antropológica e que resignificaram tanto o conceito de comunidades indígenas como também o conceito de comunidades negras rurais, passando a adotar o termo “quilombolas” (FERREIRA, 2015).

Segundo Oliveira e Maio (2011), são inegáveis o quanto os estudos de comunidades no Brasil desempenharam um importante papel na história das ciências sociais. Pode-se destacar, por exemplo, os treinamentos e as trocas de uma geração de pesquisadores, assim como o trabalho de campo contribuíram para um salto qualitativo no processo de institucionalização das ciências sociais, sobretudo da antropologia. É possível afirmar que graças a essas novas experiências foi que as ciências sociais conseguiram ampliar seu campo de pesquisa, dando conta de questões como a economia das comunidades em transição de mudança social, os processos sociais oriundos da política e da reorganização social. No entanto, é importante ressaltar que muitas das características dos estudos de comunidades foram recebidas da Antropologia. Os autores lembram que o modelo desses estudos pautava-se na observação, exploração, comparação e verificação sobre a vida social. Essa modalidade de estudo, que tem como precedente a experiência norte-americana, acabou legando à antropologia um caráter descritivo e abrangente dos fatos. Esse caráter não pode ser sintetizado como essencialmente descrição da realidade, pois partindo-se do levantamento e coleta de dados, o aspecto descritivo se relaciona com uma série de outros fatores de transformações socioculturais que extrapola as perspectivas de compreensão da vida social. Segundo Guidi (1962 apud. OLIVEIRA; MAIO, 2015 p.543) a contribuição dos estudos de comunidades para a Antropologia pode ser percebida na revelação que faz de elementos da estrutura social e culturais em territórios tão extensos como o Brasil.1
Outra significativa contribuição, se não a primeira, dos estudos de comunidades, ambas para a sociologia e a antropologia no Brasil, reside na tentativa de superar a maneira como se faziam pesquisas em ciências sociais antes da institucionalização destas disciplinas. Os estudos de comunidades se revelaram como um eficiente método para a investigação dos processos de mudanças numa sociedade. Esses estudos possibilitaram um exame mais adequado sobre como se davam os relacionamentos interpessoais e ainda as manifestações subjetivas e interindividuais. Se por um lado esses estudos trouxeram importantes subsídios na compreensão da vida social, por outro lado ofereceram conhecimentos capazes de articular projetos de mudança social responsáveis por instrumentalizarem ações políticas de governo no âmbito federal, como também outras instituições nas áreas de saúde e educação. Os estudos de comunidades tiveram um papel primordial, pois contribuíram para a consolidação das disciplinas das ciências sociais no Brasil (OLIVEIRA; MAIO, 2015).


REFERÊNCIAS




FERREIRA, Ana. L. L. A Antropologia no Brasil. Disponível em http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/110095/mod_resource/content/1/livro%20b%C3%A1sico%20de%20Antropologia%204.pdf. Acesso em 28 de abr. de 2015.

OLIVEIRA, Nemuel. S.; MAIO, Marcos. C. Estudos de comunidade e Ciências Sociais no Brasil. Disponível em http://ava.ead.ufal.br/mod/folder/view.php?id=50456. Acesso em 28 de abr. de 2015.

GUIDI, Maria Laís M. “Elementos de análise dos ‘Estudos de Comunidades’ rea­lizados no Brasil e publicados de 1948 a 1960”. Educação e Ciências Sociais, vol. 10, n. 19, jan, 1962.

NOTAS:

1 Cf. GUIDI, Maria Laís M. “Elementos de análise dos ‘Estudos de Comunidades’ rea­lizados no Brasil e publicados de 1948 a 1960”. Educação e Ciências Sociais, vol. 10, n. 19, jan, 1962.

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