Como Caio Prado entende a utilidade do materialismo histórico para compreender a condição econômica de formação do Brasil?
A interpretação
histórica que Caio Prado Jr. faz sobre a formação social do Brasil
é uma interpretação de orientação marxista denominada de
materialismo histórico. A abordagem do materialismo histórico por
Caio Prado Jr. permitiu uma compreensão dos processos sociais no
contexto colonial. Nesse sentido, seu trabalho foi inovador, pois
introduz em seu livro Evolução Política do Brasil, um espírito
investigativo responsável por conferir um novo sentido e um novo
significado sobre a História do Brasil. De fato, em sua obra
Evolução Política do Brasil, é possível vislumbrar uma
historiografia inteiramente nova, que tira a ênfase dos grandes
acontecimentos elencados pela historiografia oficial, ao destacar os
heróis, as guerras e transição política de governos,
redirecionando-a para as desigualdades entre as classes e dando
visibilidade às relações de exploração (FONSECA. 1991). Outra
utilidade do materialismo histórico de Caio Prado Jr., foi a
inclusão dos explorados como sujeitos da História, bem como suas
lutas e revoltas populares no cenário historiográfico. O autor
defende a necessidade de dar vez e voz ao povo para que este conte
sua própria história ancorada na sua realidade, na sua situação
de subserviência e não mais sobre a ótica do colonizador (CARONE,
2015). Essa perspectiva confronta com a ideia do homem cordial,
indivíduo pacifista que aceitava tacitamente sua condição social.
Outro importante elemento por ele destacado no materialismo
histórico, foi a respeito da interpretação mecanicista da
História, segundo a qual o materialismo histórico se daria por
etapas que iam gradativamente se desenvolvendo no curso da História
até chegar a um desejado estágio de desenvolvimento social. Caio
Prado Jr. divergia dessa compreensão. Para ele, a História é
dinâmica e as mudanças na sociedade se dão por meio dos processos
sociais e não gradualmente. Essa percepção de História por
etapas, segundo o autor, serviria apenas para acentuar as distâncias,
mas também a dependência de um povo sobre outro, legitimando as
relações de domínio.
A partir do
conhecimento sobre como se organizou o modelo de colonização no
contexto brasileiro (menos pela via do descobrimento e mais pela via
da extensão de novos mercados) o autor elenca como um dos
importantes fatores o aspecto geográfico, mostrando dialeticamente
uma relação tênue entre a geografia e a formação do povoamento
brasileiro (FONSECA, 1991).
Contrariando a
ideia de que o desenvolvimento do sistema econômico brasileiro seja
assentado no sistema feudal ou semi-feudal, Caio Prado Jr. sustentou
que o modelo econômico implantado na incipiente colônia já
obedecia a uma lógica capitalista internacional por novos mercados
consumidores culminando no Brasil o capitalismo do tipo nacional. O
progresso do capitalismo nacional deveu-se ao florescimento de dois
tipos de colônias: a colônia de exploração e a colônia de
povoamento, no entanto para a compreensão da vida econômica
brasileira durante esse período é necessário se deter ao estudo da
colônia de exploração que foi o tipo de domínio que prevaleceu no
Brasil. A colônia de exploração é aquela em que os bens
produzidos pela mão de obra escrava, bem como a mineração de
pedras preciosas e extração do pau-brasil estabelecia uma relação
entre dominador e dominado, em que a produção era apropriada para o
enriquecimento da coroa portuguesa enquanto a colônia ficava cada
vez mais pobre e dependente. Desse modo, a colônia de exploração
não tinha como finalidade construir uma nação independente, mas ao
contrário, subordiná-la aos interesses das elites econômicas de
Portugal.
Para Caio Prado
Jr., a solução para o país seria a criação e desenvolvimento de
uma economia caracterizada pelo mercado interno e nacional. Por
mercado interno o autor entende a incorporação de todos os
habitantes da colônia numa nova dinâmica social voltada para o
mercado produtivo em que a circulação de bens e mercadorias
pudessem ser consumidas internamente tanto por quem comprava esses
produtos e serviços como por quem os produziam. Para que o mercado
interno vingasse seria necessário desenvolver um mercado nacional da
colônia com fluxo de mercadorias e serviços mediante pagamento,
tornando a mão de obra escrava inviável e contribuindo para
deslanchar o mercado nacional. Para Caio Prado Jr. a crise do sistema
escravocrata, que substituía a mão de obra escrava pela
assalariada, já prenunciava o avanço do capitalismo industrial
(RODRIGUES, 2015).
As investigações
sobre a estrutura econômica da colônia, feitas por Caio prado Jr.,
revelaram que o Brasil foi incorporado a um sistema econômico
(mercantil e industrial) tardio, dependente e periférico. As
atividades produtivas tinham em vista tão somente nutrir as
necessidades dos povos que viviam fora da colônia, servindo aos
interesses do capitalismo comercial, isto é, o modelo de organização
social implantado, foi assentado sobre uma colônia de exploração
das riquezas do Brasil-nação (RODRIGUES, 2015).
REFERÊNCIAS
CARONE,
Edgar. Caio
Prado Junior.
Disponível em
http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/115593/mod_resource/content/1/caio%20prado%20junior.pdf.
Acesso em 25 de abr. de 2015.
FONSECA,
Pedro. C. D. Caio
Prado Jr.
[s.l.], [s.n.], 1991. Revista de Economia Política, vol. 11, nº 3
(43), Julho-setembro.
RODRIGUES,
Fernando. J. Os
pensadores sociais: Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado
Júnior.
Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=uVfQGEs9fvA&feature=youtu.be.
Acesso em 23 de abr. de 2015.
_____.
Pensamento
social brasileiro.
[s.l.] [s.n.], 2005. [livro para EAD – sociologia 4]
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