Fatores sobre a identidade nacional do Brasil e o trabalho de Manoel Bomfim
Surgimento de um pensamento sobre a
identidade nacional e a visão de Manoel Bomfim sobre a formação
do povo brasileiro?
A
questão conceitual sobre a identidade nacional brasileira, o senso
de patriotismo ou pertencimento ao que se convencionou chamar de
Estado-nação, cultura brasileira, pátria ou outras variações é
algo que tem merecida atenção e dividido opiniões de muitos
estudiosos que tanto apontam a existência de valores que são
partilhados, como também a presença de diferentes consensos e
valores. Desde o final do século XIX, muitos estudos têm dedicado
especial atenção à dinâmica dada ao conceito de nação
brasileira. Alguns excluem a ideia de identidade nacional brasileira
enquanto outros reconhecem que houve certa assimilação pela
imprensa e por significativa parcela da população. Desse modo, a
maioria dos autores se divide entre os que defendem sua constituição
e os que manifestam preocupação em preservar tal identidade (
DEBRUN, 2015).
No
rol destas discussões um dos fatores que contribuíram na construção
da identidade nacional brasileira foi a articulação de um discurso
ideológico que integrasse a diversidade de etnias, grupos
linguísticos, famílias e práticas culturais do Brasil ao interesse
geral. No entanto, esse tipo de articulação de uma pátria, nação,
oculta a existência de lutas de classes, como uma tentativa de
manipular o conflito por meio de um discurso ideológico de
pertencimento. Outra acepção que foi encarnada na construção da
identidade nacional brasileira foi a construção de uma brasilidade
ambígua, sem grandes tensões entre a esfera pública e a esfera
privada, mas pairada na conciliação das diferenças. De um lado a
noção de nacional-popular (cultura endógena) vista como residual e
folclorista, de outro a identidade cosmopolita, impostas por grupos
dominadores como a igreja, o exército e o Estado, caracterizados
como cultura nacional ou pseudo-identidade que floresceram através
do sufocamento do nacional-popular. Nesse ponto se verifica a
existência de duas culturas: uma voltada para as camadas pobres e
outra para as elites dominantes, ambas constituindo o que se chamou
de maneira abrangente, identidade nacional brasileira. Assinale-se
também a influência de muitos escritores ideológicos do século
XIX que descreveram um caráter global em suas obras sobre a
identidade nacional brasileira, ou como elemento setorial, no âmbito
da cultura, ou afirmando diferenças culturais. De modo geral, esses
autores contribuíram para fomentar um campo estrutural onde são
destacadas posições políticas e culturais hegemônicos (DEBRUN,
2015).
Um dos autores que
dedicou importante estudo sobre o pensamento social brasileiro, antes
da década de 1930, destaque-se Manoel Bomfim. O valor de sua obra
está em se contrapor às teorias racistas e ao ambientalismo sem
ambiguidades e hibridismos. Bomfim não condescendia com a construção
de uma ideia de superioridade europeia frente ao contexto de
descobrimento e dominação da colônia, como também não assimilava
construções deterministas como o biológico e o geográfico, nem a
concepção de História linear que justificassem supostamente tal
superioridade. Além de criticar o olhar de historiadores e
memoristas sobre o país, um olhar, sobretudo vertical “de cima
para baixo”, o autor esclarece que a construção de uma identidade
nacional pode ser vista por diferentes ângulos, inclusive com a
própria capacidade que os povos dominados têm de construir e contar
sua história partindo de uma visão de dentro (RODRIGUES, 2015a).
Com isso, Manoel Bomfim identificando no seio das relações humanas,
elementos constitutivos como a existência de lutas de poder,
desigualdades e a subjugação da maioria a uma minoria dominadora
que oprime. Bomfim se distancia do Darwinismo social, do racialismo
gobineuniano, do determinismo de Buckle e o evolucionismo racialista.
O autor esclarece que as dificuldades de criar uma vida pacífica no
Brasil, com igualdade de direitos, avanços técnico-científicos,
está historicamente relacionado com o parasitismo social dos
europeus que se caracterizou pela exploração da mão de obra da
colônia, o enriquecimento da corte e o conservadorismo
como sendo heranças coloniais. Bomfim observa a Europa como centro
difusor de um sistema conservador das desigualdades sociais por meio
da imposição de seu poderio econômico e militar sobre os povos
conquistados. Essas razões fazem da análise sociológica de Bomfim
um estudo singular para compreensão da formação social do Brasil,
ao direcionar seu olhar sobre a situação de dependência do país
enfatizando as relações entre os povos, o entrechoque de culturas
distintas, como principal motor do atraso político e econômico das
Américas em seu estágio de desenvolvimento, e não no
desenvolvimento da mistura dos vários povos, na hereditariedade, da
raça, das condições climáticas ou do impacto do meio geográfico
como afirmaram aqueles que lhe precederam.
REFERÊNCIAS
DEBRUN,_Michel._A_identidade_nacional_brasileira._Disponível_em_http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/110816/mod_resource/content/1/A%20identidade%20nacional%20brasileira.pdf.
Acesso em 01 de Abril de 2015.
RODRIGUES,
Fernando. J. Mudanças
do Brasil no final do séc. XIX e a obra de
Manoel_Bomfim._Disponível_em_https://www.youtube.com/watch?v=jPUQn6ERWC8&feature=youtu.be.
Acesso em 31 de março de 2015.
_____. Fernando.
Pensamento social brasileiro. s.l.,
s.n., 2015. [livro para EAD – sociologia 4].
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