Resenha sobre o documentário “Muita Terra pra Pouco Índio”
Referência
Bibliográfica
[OLIVEIRA,
Bruno. P. Muita
terra pra pouco índio?
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wAh2nokq-iM.
Acesso em 17 de abr. de 2015.]
Este
documentário é uma produção do antropólogo Bruno Pacheco de
Oliveira. O autor busca no documentário dar vez e voz as populações
indígenas no uso que faz da etnologia indígena. Sua preocupação
com o descaso das autoridades em relação à política indigenista
em vários estados da Federação permeia todo seu trabalho.
O
estudo sobre as condições de vida dos índios, a demarcação de
suas terras, os conflitos com posseiros, o corte ilegal de madeiras e
outras dificuldades enfrentadas por essas populações, são
arroladas por diferentes autoridades que representam indireta ou
diretamente esse povo. Em linhas gerais, reúne o depoimento de 27
pessoas dos mais variados estados como Amazonas, Acre, Mato Grosso do
Sul, Bahia, Rio Grande do Sul e as comunidades indígenas situadas
nesses estados. O assunto é alvo de muitos conflitos, mas que no
documentário é tratado na forma de depoimentos sem o confronto
direto entre os índios, políticos, representantes da FUNAI,
Procuradoria Geral da República, Comissão de Assuntos indígenas e
outras autoridades.
Os
relatos colhidos no documentário convergem para uma mesma direção:
a necessidade de intensificar as políticas indigenistas a fim de
amenizar o sofrimento e a exclusão social das comunidades indígenas.
As invasões e ameaças das áreas devidamente demarcadas e
reconhecidas pela lei constituem o problema fundamental das áreas
indígenas. Reconhece-se entre os depoimentos alguns avanços desde a
Constituição de 1988, como por exemplo, a inclusão de políticas
voltadas para a população indígena, crescimento da filantropia e
envolvimento empresarial na condição de ONGs, o Direito
internacional e políticas de âmbito nacional. No entanto, essas
investidas ainda se mostram tímidas desde o enfrentamento com
poderosos grupos mineradores, madeireiros e posseiros até a
desarticulação de projetos políticos que beneficiassem essas
populações.
O
quadro teórico desenvolvido pelo antropólogo Bruno Pacheco de
Oliveira, procura desnaturalizar a ideia de que as demarcações de
terras dos índios são suficientes ou extrapola a necessidade dessas
populações. Procura evidenciar a presença de argumentações
falaciosas, como os que são veiculados pela mídia, sobretudo no
Estado de Rondônia, onde o trabalho de extração de diamantes feito
por índios é apresentado como se eles fossem os detentores do poder
econômico, os donos de extensas terras em que se assentam as grandes
empresas. A fim de desmistificar essas comunicações indevidas,
veiculadas pela imprensa local, Bruno Pacheco registra o modo de vida
dessas populações, as insuficientes reservas dedicadas aos índios
sem a mínima infra-estrutura necessária. Constata que grande parte
da população infantil é desnutrida, sem as mínimas condições de
sobrevivência.
O
documentário se mostra como muito relevante tanto para a pesquisa
científica como para a divulgação, pois desnaturaliza uma
compreensão equivocada sobre as populações indígenas, veiculadas
por puro preconceito, ou devido a total ignorância sobre a histórica
luta que os povos indígenas amargam para manter viva sua cultura,
seu espaço e seu povo. O trabalho do antropólogo Bruno Pacheco
também cumpre uma função didática ao dar visibilidade social aos
povos que vivem à margem da sociedade brasileira. Numa perspectiva
da antropologia indígena, o autor desconstrói a ideia de eficácia
dos dois modelos clássicos de política pública na demarcação de
terras no Brasil: o de parque
nacional
(para visitação) e o de reserva
(para moradia). O documentário revela que as populações indígenas
estão circunscritas às situações de exclusão étnica, econômica
e histórica.
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