Ética e política
A fundamentação teórica entre Ética e
Política e a relação entre os dois conceitos
Para
o mundo grego, a preocupação entre bom e mau governo, entre a
virtude e o abuso de poder, levaram os pensadores gregos a
desenvolverem e fundamentarem os conceitos de ética e política.
Entretanto, na Grécia antiga não existia uma moral universal, mas
diversas escolas filosóficas que defendiam cada uma determinada
moral em vez de outras. Apesar das questões referentes as ideias
sobre a ética e a política remeterem à primazia dos pensadores da
Grécia antiga, Norberto Bobbio (1992) estrutura suas teorias a
partir da filosofia política moderna, isto é, a partir da formação
do Estado moderno e sob influência do pensamento maquiavélico. Na
mesma linha de pensamento de Maquiavel, Bobbio afirma existir uma
dicotomia entre ética e política da mesma maneira que existe entre
Estado e Igreja. Aliás, sempre existiu, por parte da Igreja,
tentativas de moralizar a atividade política daqueles que exerciam o
poder. Essa investida pode estar vinculada ao desejo da Igreja
exercer sua hegemonia ou por existir de fato uma preocupação com os
abusos por parte do príncipe, no entanto as tensões contribuíram
para gerar um contraste que persiste ainda hoje entre comportamento
desejável e ação política.
No
Estado moderno a fundamentação ética corresponde a obediência de
determinadas regras sociais por parte dos indivíduos de uma
determinada sociedade. Através da coercibilidade o Estado exerce sua
força e repressão produzindo, com isso, determinado comportamento
coletivo por meio da obediência civil. Nos casos em que uma dada
norma jurídica é desrespeitada por um indivíduo ou grupos de
indivíduos, essa atitude atrai para o indivíduo (ou grupo) a coação
do Estado que tem poderes para impor seu ethos coletivo. Diante
disso, pode-se afirmar a existência de dois diferentes tipos de
ética: uma objetiva, que reconhece a existência de valores
universalmente aceito por todos, mas que são controlados pelo Estado
na forma de padrão social vigente. E uma ética subjetiva, que emana
do indivíduo, de sua pessoalidade, contrária a um conjunto de
valores impostos (COTRIM, 1986).
A
partir do Estado moderno a relação entre ética e política,
relação de intensas contradições, são ainda mais intensificadas
pelos contrastes existentes entre as duas. A teoria política moderna
sobre a ética e política são classificadas por Bobbio (1992) em
monistas e dualistas. Sendo que as monistas se caracterizam pela
rigidez e flexibilidade, enquanto que a dualista é caracterizada
pelo dualismo real e dualismo aparente. Para o autor, a moral humana
e a história das ações políticas correspondem a duas diferentes
éticas e cujos critérios da ação são diferenciadas e julgadas
segundo os princípios que antecedem a ação.
As manifestações de Junho de 2013 na
política brasileira
As
manifestações de junho de 2013 foi uma reação popular motivada
pelo contexto político e econômico brasileiro. Contexto de
sucessivos escândalos de corrupção, não como um fato novo, mas
como um amálgama da política brasileira que o Estado não conseguiu
frear. A evidência do fracasso político se fez notar em seus mais
variados aspectos incluindo entre eles a falta de ética na
administração pública (TEIXEIRA, 2013).
O
aprendizado que se pode tirar das jornadas de Junho de 2013, é de
que “os protestos teriam evidenciado a existência de uma nova
agenda e de uma nova postura que são [... ] típicos do que
Inglehart chama de pós‑materialismo” (SINGER, 2013:17). Para
o autor o proletariado, a classe média e a voz polifônica das ruas
anseiam por melhor qualidade de vida, pelo fim da corrupção e
melhorias nos serviços básicos considerados essenciais ao homem
como saúde, educação e segurança. Os brasileiros sentem
necessidades reais que estão para além da construção de novos
estádios de futebol e da satisfação superficial dos bens de
produção. E aqui reside um legado às gerações futuras, a de que
é necessário a superação do modelo capitalista, que em tudo reduz
a mera mercadoria de consumo. Observa-se que as necessidades
materiais correspondem a uma fase da vida intergeracional que, tão
logo sejam alcançadas, anseiam por novos valores como a
autoexpressão e melhor qualidade de vida, por isso muitos autores
utilizam uso corrente da expressão pós-materialismo para designar
aquele acontecimento.
Esses
manifestos ensinaram ainda que numa perspectiva democrática é
preciso abdicar dos interesses pessoais em prol dos objetivos da
coletividade. Contudo, no afã de desmascará a ideologia petista que
se transvestia de ultra-esquerda e defensora dos interesses da classe
trabalhadora, os acontecimentos de junho revelou-se uma terceira via
política, que nem se enquadrava como esquerdista nem como uma
direita conservadora. A nova ideologia política, mobilizada pela
própria insatisfação e mal-estar social, é identificada por
várias razões como centro. Para Singer (2013), o centro se
caracteriza por aquela parcela da população que já tem suas
necessidades materiais satisfeitas, colocando-se fora da questão
distributiva, estão numa fase pós-materialista. Essa classe média
pode inspirar as novas levas de jovens movendo-os sobre a importância
de elevarem sua escolaridade e erguerem bandeiras éticas.
REFERÊNCIAS
COTRIM,
Gilberto. Fundamentos da filosofia: para uma geração consciente.
São Paulo: Saraiva, 1986.
BOBBIO,
Norberto. Ética
e política.
Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451992000100006&script=sci_arttext.
[Revista de cultura e política, nº 25. São Paulo, 1992]. Acesso
em 04 de Jun. de 2015.
TEIXEIRA,
Marcos. A. As manifestações de junho e a política no Brasil
contemporâneo: um convite ao debate. As ruas e a democracia.
Ensaios sobre o Brasil contemporâneo. Brasília., nº 07, 1-7, fev.
2013 [ Revista estudos políticos], Disponível em
http://revistaestudospoliticos.com/wp-content/uploads/2014/04/7p372-378.pdf.
Acesso em 04 de Jun. de 2015.
SINGER,
André. Brasil, Junho de 2013: Classes e ideologias
cruzadas. São Paulo, nº 97, nov. 2013 [Novos estudos SEBRAP].
Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-33002013000300003&script=sci_arttext&tlng=p.
Acesso em 06 de jun. de 2015.
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