Mito do Fim do mundo



A ideia de que o mundo tem um fim é antiga, antiguíssima. As cosmogonias de vários povos já contemplavam grande parte dos mitos de criação e de destruição. O mundo moderno, apesar de ter destruído grande parte dos mitos e ressignificados outros, não aboliu a ideia de um fim para a humanidade (ELIADE, 1972).

É importante observar que o mito do fim do mundo desenvolveu uma função importante para as pessoas, pois possibilitou uma compreensão de que a sociedade não é estática, mas ao contrário, está em pleno desenvolvimento. Essa movência, presente no pensamento mítico religioso, permitiu estabelecer uma relação entre o passado mitológico e um futuro encantado, fabuloso, cujo enredo localiza-se no pensamento mítico do eterno retorno: início-fim-renascimento. Mas, esse pensamento também está ancorado na ideia de um mundo ideal e salvífico que contrasta frontalmente com a realidade. Sendo a organização social uma realidade que exclui e oprime grande parte da população em diferentes contextos culturais, os povos se vêem compelidos a recriarem ou reorganizarem uma nova sociedade com base nos mitos de origem e de destruição. Desenvolvem sua escatologia pautada numa sociedade igualitária, sem diferenças sociais e étnicas em que reinem a fraternidade universal entre os povos.

Os mitos de cataclismos cósmicos atualmente são os mais difundidos e é possível que catástrofes naturais tenham inspirados mitos diluvianos do fim do mundo. Nesses relatos estão presentes a ideia de que o fim do mundo é na verdade, o recomeço de outro. Assim, origem e destruição estão interligados e são os dois uma única coisa.

Entre os povos Guaranis verifica-se a presença de mitos de destruição através de uma catástrofe que destruiria todas as suas terras. A iminência de que o mito se realizasse fez com que esse povo desenvolvessem outro mito: o da Terra sem Males. Por sua vez a crença nesse mito desencadeou uma migração dos Guaranis por mais de 100 anos. Os Guaranis procuravam um paraíso onde a dor e o sofrimento não existissem. Se verifica a ideia de final do mundo entre diferentes povos como, por exemplo, entre os Choctaw (povos caçadores), a crença desse povo é de que o mundo acabará em chamas, porém a destruição do mundo trará de volta os espíritos dos antepassados. Também se observa nesse mito a ideia seminal do ciclo cósmico da origem e destruição. Nele está presente a mesma ideia de fim, variando apenas a morfologia de como se dará o evento, sem a qual não é possível haver renovação da terra. Outro povo, conhecidos como Cherokees, compreendem que a Terra envelhecerá e será submergida pelo oceano. Já o mito Maidu nos diz que quando o mau dominar o mundo, o Criador destruirá tudo para refazer outro. — Novamente está presente a ideia cíclica do cosmo: origem e destruição, criar e recriar. Desse modo, o mito do fim do mundo se repete em inúmeras culturas como na mitologia Kato, nas cosmogonias da costa do Pacífico, etc.

Para Campbell (1990), o Fim do mundo é uma ideia mitológica herdada de outras culturas. Isso significa que as narrativas, de alguma maneira ensinam tratar-se de um acontecimento futuro e, portanto, real. A mitografia de Campbell – para quem os mitos não são meras mentiras, mas uma compreensão do mundo por meio de imagens simbólicas—toma como exemplo um texto Gnóstico de São Tomás. Para o autor o tema sobre o Fim do Mundo tem seus antecedentes no Antigo Egito em que se observa uma compreensão da vida após a morte com base na crença do Juízo Final onde as almas dos mortos serão julgadas por Osíris (o Deus ressuscitado) e condenado ao Céu ou ao Inferno conforme suas ações na terra. Essa ideia foi fundante para influenciar a tradição cristã (por ocasião do cativeiro). Pois bem, os relatos sobre o Fim do mundo em diferentes culturas revelam que um Deus julgará a humanidade no Fim do Mundo, seja Osíris para os egípcios antigos, ou Vishnu para os indianos e ainda Javé para os judeus e cristãos. O fato é que um Ser superior se mostrará como destruidor, devastador, anjo da morte do antigo mundo por meio de sua cólera. Embora os relatos sobre o fim apresentem detalhes do aniquilamento do Universo, Campbell interpreta o mito como uma transformação psicológica, uma mudança radical que se inicia no presente e não no futuro como narrado pelo texto Gnóstico e esperado pela maioria das pessoas (CAMPBELL, 1990).

É preciso perceber a mensagem que os mitos procuram transmitir ao homem nas narrativas sobre o fim do mundo. O planeta necessita de cuidado para não se extinguir e com ele todas as formas de vida, mesmo que a destruição do velho implique uma nova forma de vida. O pensamento de que o mundo teve um princípio e consequentemente terá um fim é um velho conhecido da civilização indiana. O livro sagrado conhecido como Vedas, já mencionava o mito cosmogônico da destruição do mundo, já a mitologia grega desenvolveu a teoria da idade do mundo com base no mito da perfeição “A primeira, a Idade de Ouro, sob o reinado de Cronos, foi uma espécie de Paraíso: os homens tinham vida longa, jamais envelheciam e sua existência assemelhava-se à dos deuses” (ELIADE, 1972: 48). Segundo essa mitologia, a Idade de Ouro foi o auge da glória do homem sobre a Terra, daí então reza o mito que a humanidade foi paulatinamente declinando até se encontrar na situação dos dias atuais.



O Fim do Mundo para os cristãos se pauta na visão escatológica do apóstolo João através do relato do Apocalipse. Diferente das cosmogonias aqui elencadas, para os cristãos o Fim do Mundo não está ligado a nenhum acontecimento passado, nesse sentido nem o mito do Dilúvio nem as cosmogonias de outros povos sinalizaram o fim, pois este será um evento único, sem repetição. No entanto, terá a mesma característica das cosmogonias, destrói-se o mundo atual para se regenerá um novo mundo que não deverá mais ser destruído.

A ideia de que o mundo tem um fim é uma característica do messianismo em que o Messias, ou salvador, restaurará o equilíbrio da Criação inaugurando um novo tempo. À teoria messiânica se vincula a doutrina de um Juízo Final, paraíso e inferno e profecias soteriológicas. Mas para que o Paraíso judaico-cristão se estabeleça é necessário que haja a renovação do Cosmo, nenhum novo mundo poderá ser inaugurado sem que o antigo pereça completamente.

É um equívoco pensar que as teorias sobre um Fim do Mundo, com base em cataclismos universais, é exclusividade dos povos primitivos. Enquanto que as antigas civilizações não datavam o fim dos tempos, pois usavam termos indefinidos, a ciência moderna estima que o fim do mundo ocorrerá como um fenômeno cósmico natural: a morte do sol (ELIADE, 1972).



A ciência ao sustentar  uma antiga ideia segundo a qual o mundo terá um fim, acaba reafirmando uma preocupação multimilenar que os diversos povos tinham sobre o universo. Diferentemente dos mitos, cientistas sabem que o universo perecerá com a morte daquele que foi adorado como um Deus da vida, Senhor da luz, único e Todo poderoso (talvez o primeiro de todos) desde épocas mais remotas: o Deus-Sol ou simplesmente o astro solar. Pesquisadores estão convencidos de que o Sol terá sua vida útil declinada como todas as outras estrelas do universo, metaforicamente, a morte de um Deus seria o fim da Criação (o Sol talvez tenha sido o primeiro astro adorado por diversos povos primitivos). Os antigos aprenderam muito cedo sobre a importância do Sol para a vida ao mandar embora o frio glacial, propiciar a luz necessária para a agricultura e assim prover fartas colheitas, etc.

Conspiram contra a vida o fato da Terra vir a sofrer futuramente uma coalizão com um imenso asteroide que provocará alterações climáticas de grandes proporções e que comprometeriam a existência dos seres vivos (semelhante ao asteroide que provocou a extinção dos dinossauros na face da Terra). Essa catástrofe apocalíptica eliminaria o processo de fotossíntese vegetal, os oceanos desapareceriam por evaporação, nesse processo seria o fim do ser humano, pois toda forma de vida multicelular desapareceria. Uma segunda coalizão entre a Via Láctea e a galáxia Andrômeda conduzirá a iminência de uma dupla catástrofe.  No intercurso desse Armagedom, o Sol se expandirá tanto que destruirá todos os planetas, depois dessa expansão, afirmam os especialistas, o Sol murchará e será reduzido a uma estrela anã branca, continuará murchando até se apagar totalmente inviabilizando qualquer forma de vida, havendo apenas escuridão. (VEJA COMO SERÁ O FIM DO UNIVERSO PASSO A PASSO (COM VIDEO, 2015)








REFERÊNCIAS



CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.


ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.


VEJA COMO SERÁ O FIM DO UNIVERSO PASSO A PASSO (COM VIDEO, 2015) Disponível em http://www.ciencia-online.net/2014/06/fim-do-universo-passo-a-passo-video.html#at_pco=smlwn-1.0&at_si=5681abe2e6edcf94&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=1 Acesso em 28 de Dez. De 2015.

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