INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
O
processo de institucionalização das Ciências sociais no Brasil
remota a uma trajetória de muitos calços e percalços na luta pela
sua consolidação como campo teórico disciplinar. Seu impulso
inicial está associado a dois padrões institucionais: a organização
universitária e a concessão de políticas de iniciação à
pesquisa desvinculada do ensino superior. A estas investidas há de
se considerar o importante trabalho de autores pioneiros que não
mediram esforços na produção de vasto material bibliográfico
sobre as Ciências sociais no país e o surgimento de importantes
revistas.
Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco foram
importantes polos difusores de empreendimentos favoráveis ao
desenvolvimento das Ciências sociais no Brasil, sobretudo a partir
da década de 1930 quando se percebe uma abertura de setores
específicos como os grupos científicos e as publicações de
revistas acadêmicas. Para Micelli (1987), o caminho da
institucionalização das ciências sociais se deveu tanto ao perfil
intelectual da disciplina que o autor chama de elemento diferencial e
que foi crucial para seu rumo, quanto a criação de novas demandas
de cientistas sociais cuja participação expressiva de mulheres
(57%) e imigrantes (italianos, espanhóis, judeus, japoneses, árabes)
estavam desvinculadas de setores intelectuais tradicionais e
representavam cerca de 30 %. Embora essa nova leva de cientistas
sociais proviessem de classes abastardas, a composição social dos
brasileiros geralmente eram formadas por setores mais empobrecidos,
do interior de São Paulo, de onde emergiam novas demandas.1
Entre
os maiores percalços à institucionalização das Ciências sociais
nesse período, destaque-se as relações entre a Igreja e o Estado
brasileiro que culminou em 1939 na extinção da Universidade do
Distrito Federal e em seu lugar a criação da Faculdade Nacional de
Filosofia, de orientação católica, e politicamente vinculada ao
ministro Gustavo Capanema. Esses laços entre a Igreja católica e o
Estado brasileiro solapou profundamente o processo de
institucionalização das Ciências sociais.2
Contudo,
as décadas de 1930 e 1940 assinalam a fase de maturação das
Ciências sociais no Brasil. Durante
esse período as universidades passaram a ser referência de centros
difusores do conhecimento havendo
também um retorno às grandes obras sociológicas, produção de
ensaios, teses, artigos científicos e outras importantes publicações
que estavam no centro dos debates intelectuais.3
Para
Almeida (2015) no quadro situacional das instituições poucos
esforços foram movidos na fundação de novas instituições nos
anos 40 quando comparado aos anos 30 e 50, com exceção da FGV e da
iniciativa privada. A autora lembra que foi no ano de 1930 que houve
a ascensão das Ciências sociais ao status de disciplina acadêmica
e no ano seguinte sua obrigatoriedade no ensino secundário. Tanto na
escola secundária quanto no ensino superior as Ciências sociais se
consolidaram graças a reforma Francisco Campos.
As
tentativas de institucionalização das Ciências sociais no Brasil
está ligada a luta pela implantação de centros superiores de
ensino e sua inclusão como
disciplina e campo de saber. Sob esse aspecto, Almeida (2015)
enfatiza que apesar de haver divergências quanto ao formato, grau de
autonomia e seu conteúdo, as diferentes
perspectivas eram postas de lado por um objetivo maior que foi a
necessidade de instituí-la. Desse modo, autores que defendiam uma
perspectiva autoritária, democrática, conservadora,
cristã de frente católica, liberais e/ou socialistas convergiram
seus esforços no foco da institucionalização no intuito de
resguardar o processo de consolidação das Ciências sociais. Essa
geração de cientistas sociais intelectualizados conseguiram reunir
com eficácia
uma argumentação
e articulação
politicamente capazes de alicerçar seu surgimento. No
entanto, a tentativa como tantas outras, fracassara. A
autora reconhece a trajetória das Ciências sociais no Brasil como
um penoso trabalho de constituição: criação, banimento e
reconstrução que logrará
até meados de 1960.
À guisa de conclusão, desde a reforma Rocha Vaz em 1925 que
introduziu a sociologia no sistema de ensino da educação básica,
iniciou-se uma marcha por sua institucionalização nas décadas
posteriores. Durante os anos 30, 40 e 50 esse período se
caracterizará pela intermitência das ciências sociais no currículo
escolar, o surgimento de novas instituições e cientistas sociais
empenhados no contexto de modernização do país. Contudo, este foi
um longo processo cheios de meandros (PEREIRA, 2015).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA,
Maria. H. T. Castelos na Areia:
Dilemas da Institucionalização das Ciências Sociais no Rio de
Janeiro (1930-1964). Disponível
em file:///C:/Users/Qbex/Downloads/bib24_3%20(1).pdf
Acesso em 14 de Set. de 2015
MICELLI,
Sergio. Condicionantes
do desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil 1930-1964.
RBCS: São Paulo,
v.2,
n.5, out.1987.
Disponível em
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_05/rbcs05_01.htm
Acesso em 14 de Set. de 2015
PEREIRA,
Jéssika. D. S. Manual de Estágio Supervisionado II.
Disponível em
http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/129613/mod_resource/content/1/Manual%20Est%C3%A1gio%20Supervisionado%20II%20%28diagramado%29.pdf
Acesso em 21 de Set. de 2015
NOTAS
1Op.
cit.
2Idem
ibidem
3Idem
ibidem
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