Análise crítica do filme: "Entre os muros da Escola".
Para Libânio (2004, apud. Melo,
2015. p. 41), a organização escolar é entendida tradicionalmente
como sendo o corpo administrativo da escola responsável pela direção
e tendo como função estabelecer normas, elaborar e executar
planejamentos, os objetivos e princípios norteadores. Nesse sentido
caberia a organização escolar disponibilizar as três
formas de recursos: os recursos
materiais necessários ao trabalho didático; os recursos financeiros
por meio da administração de finanças e os recursos intelectuais
por meio do qual é articulado o trabalho docente, sua coordenação
e controle. De modo geral os recursos dizem respeito aos elementos
materiais e o desempenho do homem na busca para atingir determinado
objetivo coletivo.1
O funcionamento e organização da
escola como se apresenta hoje, com um corpo diretivo formado por
direção (técnico-administrativo), conselho escolar, professores,
pais e alunos está alicerçada em grande medida em teorias e
abordagens da administração. Por conseguinte, qualquer alteração
na estrutura política e econômica ou no âmbito das relações
sociais, altera-se também os paradigmas do modelo de gestão (MELO,
2015). Desse modo, percebe-se que os modelos e paradigmas de gestão
escolar são muito tênues e condicionadas por fatores externos que
fogem do controle da unidade escolar.2
No filme “Entre os muros
da escola”, a presença de hostilizações nas relações escolares
origina o conflito. O conflito escolar é algo muito presente nas
unidades escolares e suas motivações são inúmeras podendo em cada
caso ultrapassar o ambiente escolar. Há conflitos de rivalidade
durante o intervalo, debate por diferentes pontos de vista entre os
professores, competições entre os alunos (Carl e Souleymane)que
trazem em suas falas ideias racialistas, discussões e contendas
caracterizando diferentes formas de conflitos em um único lugar.
Esses tipos de conflitos são caracterizados pela pessoalidade e
consciência da própria ação de quem o exerce (LAKATOS, 1985).
Para resolve o conflito o corpo discente da escola se reuni para
discutir os problemas e propor soluções por meio de um “sistema
de penalização por pontos” (42:15), isto é, sempre que um aluno
cometer uma penalidade terá de ser punido por meio da usurpação de
seus pontos. A organização da escola realiza reuniões com o
conselho de classe para discutir o desempenho e comportamento de seus
alunos, além dos professores, as
alunas Loise e Esmeralda participam do conselho como delegadas e
apesar de não haver consenso,
percebe-se que alunos que não tem um rendimento esperado numa dada
disciplina acabam sendo bons em outras como é o caso do aluno Chérif
(01:23:38).3
A
escola no filme tem nos papéis desempenhados pelos agentes uma
divisão hierárquica bem definida e estabelecida pela relação de
poder que há entre os que mandam e os que obedecem. Entre
os muros da escola, reflete com muita proximidade a realidade de
nossas escolas e das relações no interior dessas organizações
sociais. A participação dos pais é uma icógnita que se observa no
total controle sobre as decisões da escola nos assuntos internos.
A
expulsão do aluno poderia ter tido outro desfecho se a escola de
modo geral tivesse tomado medidas preventivas uma vez que Souleymane
exteriorizava por meio de palavras e gestos que havia algum problema,
no entanto a escola deliberou por sua expulsão sem procurar a causa
da indisciplina crendo que pela extinção exemplar de um
comportamento desviante conseguirá resolver o problema da
indisciplina, no entanto a questão não está no indivíduo, mas nas
suas relações (familiares, grupos de amizade, sociedade). A escola
deveria localizar o problema fora do indivíduo que o manifesta. Sua
expulsão, no fundo é um reflexo da decadente estrutura escolar
incapaz de perceber a extensão do problema. Não é o indivíduo que
foi feito para a escola, mas ao contrário, a escola que foi criada
para o indivíduo.4
Contudo, segundo Melo (2015), somente a partir do funcionamento da
escola, é que se torna possível visualizar sua cultura
organizacional por meio das relações de trabalho entre as pessoas,
das experiências e convivência na sala de aula. Em outras palavras
é por meio da práxis escolar que se verifica a teoria, o modelo de
gestão reivindicado pela instituição bem como suas funções e
objetivos. A autora lembra que existem muitos estilos de gestão que
modelam o fazer pedagógico e destaca três que tem traços comuns
com o modelo sociocrítico: a autogestionária, a interpretativa e a
democrático-participativa, todavia nenhumas desses desejáveis
modelos de getão se a plicaria à escola do filme, objeto de nossa
análise, onde impera uma gestão centralizada na hierarquia e
conservadorismo institucional.
2
Cf.
MELO,
Beatriz. M. Projeto
político pedagógico e gestão do trabalho escolar.
[livro texto], Disponível em
http://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/130511/mod_resource/content/4/Material%20Did%C3%A1tico%20PROJETO%20POL%C3%8DTICO%20PEDAG%C3%93GICO%20E%20GEST%C3%83O%20DO%20TRABALHO%20ESCOLAR.pdf
Acesso em 03 de Out. de 2015
4
ENTRE OS MUROS DA ESCOLA.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=XHuvaPK98Lg
Acesso em 03 de Out. de 2015.
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