A pesquisa nas Ciências Sociais


Qual relação entre o surgimento do pensamento científico e a noção de pesquisa?

Em linhas gerais para compreender a relação entre pensamento científico e pesquisa é necessário entender que uma gama de transformações políticas, econômicas e sociais contribuíram para o desenvolvimento do espírito moderno. Tanto a pesquisa quanto as mudanças no pensamento e na forma de interpretar o mundo compõem a transição do pensamento medieval para o moderno. Na pesquisa assim como o pensamento científico, a preocupação não está no origem e no significado das coisas, como se detiveram inúmeros pensadores ligados ao pensamento medieval.

Para o espírito moderno as respostas para explicar a realidade não estão nos dogmas ou verdades reveladas por um ente superior. Somente por meio da pesquisa científica o homem seria capaz de compreender sua existência e contexto social. A premissa inicial seria trabalhar com fatos concretos, materializados com base da racionalidade. Desse modo, o pensamento racional com base na razão pura é o principal motor para o desenvolvimento de determinada pesquisa, não é demais lembrar que não se pode dissociar a pesquisa do pensamento racional, pois as linhas que demarcam ambas são muito tênues.

Por que no campo das ciências sociais, diferentemente do campo das ciências naturais, ou ciências “duras”, a relação entre pesquisador e objeto pode influenciar no resultado da pesquisa?

 Existe entre o pesquisador social e seu objeto de estudo uma aproximação muito grande devido a natureza do objeto e daquele que o investiga. Nesse sentido quando um pesquisador se propõe a investigar um determinado fenômeno social como por exemplo, os conflitos pela posse de terras entre grileiros e latifundiários no Norte do país, e sendo o investigador um proprietário de terras, é casual que durante o desenrolar de seu trabalho desenvolva “doses” de subjetividade oscilando entre os valores e significados que este pesquisador carrega em sua bagagem cultural e que o faz desenvolver determinado ponto de vista em vez de outro, afirmar ou negar alguma ideia. Isso não quer dizer que a objetividade em um trabalho não seja possível, mas sim que todo trabalho desenvolvido remete à um ponto inicial onde envolve valores subjetivos não eliminados, pois como não é possível despojar-se totalmente da subjetividade que envolve o indivíduo, como também é estreita a relação entre pensamento e emoção, os interesses pessoais e valores subjetivos acabam interferindo no pensamento ainda que não seja intenção do autor.

 pressupostos na construção do conhecimento científico nas ciências sociais.

 Nas ciências sociais o conhecimento científico pode ser alcançado através da utilização do método científico como forma de expurgar as subjetividades, uma vez que a realidade empírica dos diferentes grupos sociais são diversas e atuam sobre o indivíduo. Nesse caso, por mais que o cientista social se empenhe, sempre precisará se perguntar quais os aspectos que mais o envolve emocionalmente, a fim de que suas predileções não interfiram na pesquisa. Entretanto o positivismo  clássico propõe a racionalidade e o conhecimento científico para atingir um conhecimento seguro. O método científico confere critérios rigorosos capazes de conduzir a pesquisa uma maior objetividade. Com o método científico, interesses pessoais e valores subjetivos são mitigados através dos seguintes procedimentos: rigor, distanciamento, fidelidade aos fatos, etc., distinguindo juízo de fato do juízo de valor. Desse maneira as ciências sociais procuravam nos pressupostos metodológicos assemelhar-se às ciências naturais.



Principais características dos métodos quantitativo e qualitativo



As pesquisas podem ser diferenciadas por vários fatores, a característica de uma pesquisa é uma delas, pois estabelece uma peculiaridade que lhe é própria, identificando-a no meio de tantas outras. Há divisões acirradas no meio acadêmico sobre o método mais adequado a ser utilizado numa pesquisa, os métodos quantitativo e qualitativo são um bom exemplo disso, pois possuem características distintivas, as vezes até contraditórias, não significando com isso que as duas não possam ser utilizadas conjuntamente dependendo do caso. Em geral as características do método Quantitativo é o estabelecimento de um padrão de dados; uso de análises estatísticas através dos números, teoremas, pressupostos cumulativos; possui flexibilidade das informações; uso de questionário; uso da observação, o caso de informações muito complexas. Já o método Qualitativo corresponde a tudo aquilo que não pode ser quantificado em números, servindo para cobrir a lacuna que o método quanti não consegue suprir. A natureza do método quali lhe conferiu características de ser um método não-científico; subjetivo; impreciso, no entanto essa caracterização permite ao método quali ultrapassar as barreiras da observação direta para a observação participante; Existe a possibilidade de realizar um estudo de caso, a análise do discurso, do conteúdo, do contexto social; possibilitando, dessa maneira, ampla análise sobre o objeto e em diversas áreas do conhecimento.

Método comparativo: um importante método de análise nas ciências sociais

Além de ser um estudo muito primado pelas pesquisas sociológicas, o estudo comparativo advindo deste método, protagoniza muita eficácia à pesquisa, pois não encerra sua analogia numa visão universalizada, mas na pluridiversidade dos diferentes contextos. Sua funcionalidade decorre da comparação de variáveis como informações, objetos, definições e contextos. Ademais, o estudo comparativo permite ao pesquisador o estabelecimento de parâmetros para a pesquisa e dentro dessas possibilidades é possível utilizar uma variedade de métodos tanto da incorporação do método quantitativo quanto do método qualitativo. Assim o método comparativo é um importante instrumento de pesquisa nas ciências sociais no estabelecimento de relações causais ou na tentativa de superar os limites contrafactuais. Possibilita ainda uma maior aproximação e transpor os limites de análises.

 “endogeneidade” e “causas espúrias”

Uma das preocupações que envolve a pesquisa são as relações de Causa e efeito. Os pesquisadores na ânsia de encontrar uma resposta para determinado fenômeno se apropriam do método experimental a fim de responder suas indagações, afinal, por meio do método experimental é possível mensurar as causas para tal fenômeno. O método experimental confere maior índice de controle ao pesquisador sobre o objeto explorado – a manipulação das causas, isto é, a procura da causa e efeito, conhecido como endogeneidade. A título de ilustração é perfeitamente possível a um pesquisador interessado em conhecer as propriedades físicas de um objeto, como por exemplo, a água. Através do método experimental o pesquisador isolando essa substância (H2O) em seu laboratório observa que através do aquecimento da água a uma temperatura de 100º graus Celsius entra em ebulição (fervura) ocorrendo um fenômeno físico em seu estado originalmente líquido para o estado gasoso. O pesquisador conclui que algumas variantes contribuem para que ocorra a alteração de seu estado líquido: tempo, temperatura, pressão, quantidade, ambiente, etc. No caso das ciências sociais o método experimental não teria a mesma eficiência em um estudo sobre relações sociais, formas de poder e controle, política social, movimentos sociais, etc.

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