Antropologia Interpretativa

Segundo Cardoso de Oliveira(2006), a Antropologia interpretativa é um paradigma vinculado à tradição intelectualista europeia continental. Para ele, trata-se de uma tentativa bem articulada, embora tardia, que buscava recuperar a perspectiva filosófica do séc. XIX. A Antropologia Interpretativa pode ser compreendido como uma reação contra o pensamento Iluminista: pensamento centrado na razão, quase um dogma aos que absolutizam o antropocentrismo intelectualista. Por esse motivo é que se popularizou o uso da expressão pós-modernidade, um indicativo de que a chamada modernidade, havia chegado ao fim. O autor comparando o paradigma hermenêutico da Antropologia Interpretativa com outros paradigmas(racionalista e estruturalista, culturalista e estrutural-funcionalista), observa o crescimento e rejuvenescimento da Antropologia.

A perspectiva hermenêutica trouxe novos elementos que se instalaram dentro da Antropologia. Não veio para erradicar os paradigmas tradicionais, mas para ser mais uma alternativa, juntando-se aos paradigmas já existentes e, como dito anteriormente, adicionando novas características tais como

1) a moderação na autoridade do autor; não se trata de uma verdade empírica e muito menos de uma verdade absoluta, pois se assenta nas condições humanas do diálogo e da linguagem. Isso implicará no revisionismo histórico e etnográfico das pesquisas que cunharam os chamados “povos primitivos” - entendendo os povos que habitavam a floresta como aqueles que estavam em estágio anterior do desenvolvimento humano. Têm-se então, uma ruptura com a autoridade do autor, visto antes como verdade absoluta, dogma insofismável do evolucionismo cultural (STEIN, 2004).

2) maior atenção dada a escrita;  pede atenção para o que é produzido no campo etnográfico, evitando-se com isso, incorrer nos mesmos excessos dos eventos que custaram caro para o campo antropológico. O novo percurso da Antropologia do século XX deve considerar a antropologia interpretativa, ou para usar um termo cunhado por Clifford Geertz, uma “antropologia do outro”. Essa nova perspectiva reescreve uma etnografia que opera na auto-reflexão, se recusando, sobretudo, ofertar uma interpretação que não seja do “outro” (KLINGER, 2007);

3) maior preocupação com o momento histórico do encontro etnográfico: segundo Guimarães (2006), a etnografia se caracteriza pela noção de oralidade, espacialidade, alteridade e inconsciência, opondo-se à historiografia que se configura a partir da escrita, a temporalidade, a identidade e a consciência. Uma última característica é a compreensão de que a razão humana (tão enfaticamente exaltada pelo movimento iluminista) também tem suas limitações.



REFERÊNCIAS


CARDOSO DE OLIVEIRA, R. O trabalho do Antropólogo. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Unesp, 2006.

GUIMARÃES, Manoel. L. S. Estudos sobre a escrita da História. Rio de Janeiro: 7letras, 2006.

KLINGER, Diana. Escrita de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnográfica. Rio de Janeiro: 7letras, 2007.

STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: Edipuc, 2004.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ressurreição, reencarnação, ancestralidade e o nada

Durkheim - a religião é um fato social

Antropologia Interpretativa