Diferenças da colonização espanhola e portuguesa e suas consequências para a formação psicológica do brasileiro de acordo com Hollanda.


 Segundo Sérgio Buarque de Holanda no capítulo Fronteiras da Europa, o processo de colonização foi um acontecimento dominante que trouxe para a colônia muitas consequências. No tocante a exploração latifundiária, por exemplo, o português que buscava a todo custo o enriquecimento às custas do trabalho escravo nas lavouras de cana-de-açúcar, é responsável por inaugurar um modelo de organização agrária que se assenta sobre a propriedade de grandes extensões de terras improdutivas. Enquanto que a colônia de exploração portuguesa, caracterizada pelo comércio, é a responsável por inserir no Brasil uma exploração da terra baseada no latifúndio nas quais eram produzidos bens necessários ao mercado europeu, o modelo de exploração espanhola, tinha a intenção de estender suas conquistas sobre as novas terras, como um prolongamento orgânico de sua pátria. Segundo Sérgio Buarque, a colonização espanhola caracterizou-se por assegurar na colônia seu predomínio militarista e político-econômico através do seu povoamento e ordenamento. O povoamento e ordenamento das cidades na colônia pelos castelhanos é analisado por Sérgio Buarque como um instrumento articulado que trouxe como consequência o domínio das nações conquistadas, a exemplo do que ocorreu no Oriente Próximo, Roma e China. A urbanização das cidades por meio da transformação da paisagem natural e suplantando, em seu lugar, a paisagem urbana, antinatural, manifestação do espírito humano para limitar as fronteiras, mas também as liberdades.
Outra característica da colonização lusitana foi o desenvolvimento de uma economia voltada para a monocultura, além da inserção de novas técnicas agrícolas que foram incorporadas a agricultura. Mesmo com a introdução de novas técnicas na lavoura, essas representavam um retrocesso quando comparadas aos conhecimentos técnicos em funcionamento na Europa. Sobre a economia, imperou a “moral das senzalas”, da exploração de um grupo empobrecido por outro que enriquecia às custas do suor e trabalho. As relações de trabalho na colônia estabelecia, dessa maneira, uma lógica que naturalizava a desigualdade social.
Também pode-se perceber a influência da língua portuguesa, pois como lembra Sérgio Buarque de Holanda, a língua portuguesa e o castelhano eram mais acessível à compreensão dos indígenas do que a língua nórdica, por ocasião da colonização holandesa. A aproximação com a língua portuguesa permitiu a assimilação de inúmeros elementos culturais entre índios, europeus e africanos, dinamicamente fundindo-se, excluindo e se interpenetrando na arte, na religião, nos costumes, etc.



REFERÊNCIAS


HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ressurreição, reencarnação, ancestralidade e o nada

Durkheim - a religião é um fato social

Antropologia Interpretativa