Sobre o vídeo “O papel do Brasil na escravização e o engodo da democracia racial”: https://www.youtube.com/watch?v=RbRhuJ1wEy8



 Freire negando-se a pensar a mestiçagem como um mal, mas não só, rompendo com o evolucionismo cultural, escreve o quanto foi fecundo o cruzamento entre os povos. Mesmo não dando visibilidade aos estupros e as desigualdades [que Freire estava ciente], entre senhores e escravos, prefere a nostalgia de uma América Portuguesa que não existe mais. O foco na miscibilidade permitiu a Freire exaltar os portugueses enquanto colonizadores. Seu pensamento filia-se, desse modo, à ideologia de um país colapsado pelos engenhos. Por isso mesmo será muito criticado como "luso-tropicalista" e "justificador do imperialismo português" (FREITAS, 2000).

 Se por um lado o antagonismo harmônico de Freire, em sua obra CasaGrande & Senzala (1933), empenhou-se  em compreender a formação cultural brasileira com base na origem dos povos  africanos, europeus e indígenas, resultando em fragilidades e incongruências ressaltadas pela crítica literária, pois " Assentou as bases de seu livro inaugural no critério de diferenciação entre raça e cultura: a primeira deixaria de ser categoria explicativa, papel doravante à cultura." (FREITAS, 2000:20).

Por outro, a mestiçagem entre os povos, tornara-se um marco inaugural de grande repercussão social. Para o autor, a mestiçagem atenuava os conflitos entre colonizador e colonos e com isso encurtava as distâncias entre a casa grande e a senzala. A compreensão que se tinha no Brasil colonial sobre a mestiçagem era de que a origem de muitas doenças devia-se ao cruzamento de raças, de onde se derivava o mau-caráter, a apatia, preguiça e outras ideias que foram sendo naturalizadas e mitologizadas em diferentes contextos: mito do negro preguiçoso, mito do sexo frágil, mito da igualdade racial, etc. Casa Grande & Senzala, canaliza os males imputado à mestiçagem para outra direção, atribuído-os ao sistema econômico. Foi o primeiro trabalho a abordar o caráter, a apatia, e a preguiça como um fato social em que, a cultura, e não a genética, é decisiva na construção social (loc. cit.).

 O relevo dado às questões da culinária, religião e sexualidade direciona seu trabalho para uma perspectiva positiva sobre a miscigenação. Empenha-se na construção de uma identidade nacional do Brasil, enquanto Estado e nação. Busca compreender o que é ser brasileiro, a origem e as trocas culturais entre indígenas, africanos e europeus (RODRIGUES, 2014).


REFERÊNCIAS



FREITAS, Marcos, C. Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2000.

RODRIGUES, Gilson. Olhares sobre a miscigenação. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=uYWLuPLHQ1Q. Acesso em 27/Ago., de 2014.

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