Sociologia no Ensino Médio

  A institucionalização da sociologia como disciplina do Ensino médio é pontuada por vários desafios, no entanto Oliveira (2011a) destaca os mais proeminentes no contexto de ensino brasileiro sendo eles o desafio da identidade, da legitimidade e o epistemológico. O desafio da identidade decorre em razão de uma herança dicotômica do ensino de sociologia. A presença da sociologia se caracteriza pela intermitência no currículo educacional que vem desde a reforma Rocha Vaz e a reforma Francisco Campos de 1920 sofrendo idas e vindas como sua interdição pelo Estado Novo ou no auge do Regime Militar de 1964 até sua reintrodução no período da redemocratização do país. Além do mais há uma orientação nos cursos de Ciências Sociais exclusivamente para o bacharelado, para a produção de pesquisa científicas, ficando o curso de formação para docentes em uma perspectiva oposta.

 O segundo desafio, da legitimidade, como o próprio nome indica é uma superação da intermitência por meio de sua consolidação como uma ciência nos moldes postulados por Durkheim ao garantir cientificidade à sociologia através de um método próprio. A legitimidade da sociologia requer a inserção do conhecimento científico como um conhecimento que dá conta dos problemas sociais modernos. Diante disso, há uma questão de fundo a respeito da habilitação daqueles que lecionam Sociologia, se de fato estão relacionando os conteúdos com o caráter etimológico e ontológico das Ciências sociais. O desafio proposto por Oliveira (2011b), remete a questão de como a Sociologia elabora sua compreensão sobre as categorias sociológicas, isto é, partindo de explicações qualitativas, contrapondo-se “as ideias de classe social, identidade, gênero, ação coletiva, etc (OLIVEIRA, 2011b, p.119). Sobretudo, quando estas categorias estão vinculadas as compreensões clássicas do século XIX e início do século XX. Nesse sentido, as ideias e postulações teóricas devem ser complementadas com a prática pedagógica, teoria e prática devem caminhar juntos no ensino de sociologia apropriando-se da realidade e do contexto social dos alunos.

 Considerando toda essa gama de questões que pairam sobre a institucionalização da disciplina, alguns autores procuram situar como desafio a questão epistemológica, desafio este que necessita de adequação dos conteúdos, por parte do professor, à realidade coetânea dos alunos do ensino médio. Ao trabalhar com autores clássicos da sociologia faz-se necessário redimensionar o conteúdo ao nível de compreensão dos alunos, torná-los acessíveis para só então criar uma consciência participante capaz de inferir diretamente na realidade, os desafios epistemológicos do ensino de Sociologia por meio da participação ativa sobre a realidade a fim de garantir seu lugar na educação, quando “a sua reintrodução possuiu como pano de fundo um forte ativismo político, devendo ser destacado que a lei por si mesma não resolve o problema, não devemos, portanto, esvaziar o debate político da questão apenas por força de lei” (OLIVEIRA, 2011b, p. 118). A lei apesar de ser um forte mecanismo de legitimação para o exercício da Sociologia, está vinculada a contextos políticos diversos. Assim, de lei em lei a Sociologia assiste ao pólipo de decretos, resoluções, pareceres jurídicos, vetos, etc. Sem esgotar o debate a cerca dos desafios do ensino de sociologia aqui expostos, mas ao contrário, reconhecendo a existência de outros desafios até mais amplos em grau de complexidade, o objetivo foi trazer à luz as reflexões sociológicas atuais, debruçando-se sobre a educação e seus dilemas para a docência.
 
 O desafio da identidade preconizado por Oliveira, a partir dos anos 1942 se intensifica sobretudo devido a reforma Capanema durante o Estado Novo. Nesse período, a sociologia sofrera um golpe que tirava da disciplina sua obrigatoriedade das escolas secundárias, um direito conquistado em 1925 pela reforma Rocha Vaz. No entanto, a sociologia permanecia nas escolas que ofertavam o magistério. Além de extinguir a sociologia do ensino secundário, a reforma Capanema aboliu os cursos complementares da qual a sociologia fazia parte e que tinham um caráter preparatório para o estudo superior nas várias áreas de engenharia, medicina e advocacia. Esta investida preparou o cenário necessário para a concretização de novas intervenções na educação que vieram por meio da hostilidade política à área de humanidades de modo geral, excluindo-as dos processos educacionais de ensino e pesquisa.

 Por último, porém não menos importante é a questão da adoção do livro didático de sociologia no ensino médio, uma vez que não existe um livro didático de sociologia consagrado nacionalmente porque estes livros não passam pela crítica especializada e como alguns professores não se dedicam a pesquisa, com isso, acabam por seguir as orientações do livro acriticamente. Se o objetivo do ensino de sociologia é criar uma consciência sociológica no aluno, questões como proposta única, quantidade e seleção de conteúdos acabam sendo sem sentido. Sendo os conteúdos variados, a metodologia é quem fará a diferença e aqui reside principalmente a formação em licenciatura ou domínios das práticas de ensino, pois a escolha dos conteúdos terá sempre caráter arbitrário. Partir de temas diversos, variando as estratégias de ensino é o que se pode fazer no ensino médio. O currículo de Sociologia no Brasil pode ser analisada com base em dois eixos: os tradicionais conservadores e as concepções críticas. Um e outro foram modelos transplantados dos EUA e influenciaram o campo curricular brasileiro. O autor analisa que a seleção de um currículo não é desinteressada, isenta ou neutra. Preocupam-se, acima de tudo, em atender aos interesses econômicos de grupos dominantes. Percebe-se a existência no Brasil de duas correntes bastantes influentes no campo da teoria curricular crítica: a sociologia do currículo, de orientação americana, neomarxista e outra conhecida como nova sociologia, de orientação britânica (MORAES, 2012).
















REFERÊNCIAS


MORAES, Amaury. C. Desafios para a implantação do Ensino de Sociologia. Disponível em http://graduacao.ead.ufal.br/mod/resource/view.php?id=1716. Acesso em 24 de Jul. de 2012]


OLIVEIRA, Amurabi. P. Sentidos e dilemas do ensino de Sociologia: um olhar sociológico. [Revista Inter-legere, nº 09] Disponível em http://www.cchla.ufrn.br/interlegere/09/pdf/09es01.pdf Acesso em 20 de Mar. de 2016


__________. Ensino de Sociologia: desafios epistemológicos para o ensino médio [Revista Espaço acadêmico, nº 119, Abril de 2011. Disponível emhttp://ava.ead.ufal.br/pluginfile.php/151539/mod_resource/content/1/11758-50047-1-PB.pdf Acesso em 20 de Março de 2016.Acesso em 20 de Mar. de 2016



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