O que é um Texto Sagrado?
Uma definição sobre textos
sagrados deve considerar a tradição religiosa na qual surgiu. Nesse sentido, a
definição de texto é ampliada a todos os povos civilizados e ágrafos, pois as
sociedades que não se utilizam da escrita para transmitir sua tradição fazem
uso da memória oral e passam de geração à geração seus ensinamentos.
Etimologicamente, a palavra texto engloba diferentes formas de linguagem e não
apenas a escrita, como se é tentado pensar. Dessa maneira, as várias formas de
linguagem como verbal, jurídica, sonora, tátil, etc. constituem um conjunto de
textos que tecem sentidos e seus significados.
Da oralidade à escrita
Assim
como o texto escrito, o texto oral está organizado com uma estrutura que lhe é
própria e conferem sentido as palavras. Vale referenciar que muito da cultura
ocidental se deve aos poetas que antes da criação do alfabeto pelos
gregos, transmitiam e divulgavam o conhecimento por meio da
oralidade. Como não considerar a tradição oral como um texto? E por que não
pontuar a importância do mito na construção do texto, ainda não superado, mas
ressemantizado pela psicanálise moderna de Freud, Carl Jung entre outros. Assim
como o texto escrito, o texto oral é transpessoal, isto é, transcende sua
autoria para apresentar o que é principal: a mensagem e seu sentido.
Origem das leis
Por sagrado entende-se aquilo que
não se confunde com o profano, isto é, quando um dado grupo étnico ou religioso
admite seu texto como sendo de origem divina este grupo reelabora uma
cosmovisão de duas realidades, mais que isso, de uma divisão entre o bem e o
mal, eterno e transitório, homem e Deus. E embora reconheça a participação do
homem como instrumento, não se confunde com ele pela essência. Sagrado, no
sentido que lhe conferimos, se refere a origem divina no processo criativo que
a distingue do mundo empírico. Outra caracterização do texto sagrado está no
seu fundamento miraculoso ao estabelecer para o homem a “vontade
divina” fundada em um tempo primordial. Sua
fundamentação teológica conferiu plausibilidade às normas de grupo na criação
de leis e por muitos anos foi o “cimento
social” de muitas culturas na forma de
dogmas ou tabu.
A Torá
Os Textos Sagrados são os pilares que sustentam uma determinada religião, dada sua importância e contribuição. A contribuição desses escritos pode ser verificada na cultura de vários povos e sua influência é sentida em vários aspectos políticos, econômicos e sociais. Não estamos aqui omitindo o aspecto religioso, mas a partir dele abrangendo os demais.
A Torá como Texto Sagrado do povo de Israel traz a aliança de Deus com um grupo étnico específico, os antigos semitas. Claro que antes da compilação da Torá seus ensinamentos já eram vivenciados e transmitidos pela tradição oral. E da importância de conservar suas leis foi que as escolas rabínicas judaicas realizaram seu cânon mediante as transformações culturais. Entre os Textos Sagrados do Judaísmo destaque-se a Torá (que é traduzido como ensinamento ou lei). Este escrito sagrado descreve a aliança de Deus com o povo de Israel. Segundo esse povo (antigos semitas) Deus havia revelado seus ensinamentos aos homens por meio de Moisés e estes deveriam honrá-lo observando seus preceitos. A Torá rege toda a vida espiritual e prática do judeu. Mais que isso, este livro será o fundamento para o surgimento de outras duas grandes religiões: o Cristianismo e o próprio Islamismo. No ambiente judaico destaque-se duas autoridades autorizadas a interpretar corretamente a Torá desde a destruição de templo de Jerusalém – os fariseus e os rabinos.
Além da Torá outros escritos são acolhidos na tradição judaica como o Talmude, a Mishnah, Gemara, mas todos são fundamentados pela Torá. A Torá não traz apenas preceitos religiosos (orações, cânticos, etc.). É uma importante fonte de relato sobre a vida deste povo, não raro, cativo de outros. Essa constatação nos leva a teologizar como a indiferença e subjugação de povos como escravos é de longas datas. O professor Correia Júnior (2021), divide em períodos essa trajetória facilitando a compreensão e como se deu a configuração de seus livros no cânon judaico. Sem adentrar na questão do nacionalismo sionista ou a luta pela formação de um estado judeu independente, Correia Júnior (op. Cit. p. 60) traz os livros seminais para a construção do nacionalismo religioso. Conhecidos como Ketuvim ou simplesmente traduzidos como “Escritos”. são eles: os Provérbios e os Salmos, o livro de Jó, - e os denominados “Rolos festivos”: Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações e Éster. Seguidos pelos livros de — Daniel, Esdras (Esra) e Crônicas. Estas fontes não estavam contidos na Torá, mas receberam importância entre os grupos de poder do judaísmo, além de trazerem normativas para a liturgia judaica e até a educação dos iniciados.
Textos Persas
A herança cultural dos Persas está ligado diretamente a característica desse povo não está isolado, mas em intercâmbio direto com outras civilizações. Isso permitiu a sobrevivência do legado cultural tanto para o campo da filosofia quanto da religião. O fio condutor da cultura persa para o Ocidente pode ser observado em uma antiga prática religiosa chamada de Masdeísmo. O Masdeísmo teria sido fundado por um profeta conhecido pelo nome de Zaratustra ou Zoroastro. A existência desse personagem é bastante discutida, mas algumas fontes o colocam no século VII a.C. Na verdade, a questão sobre sua existência não tem muita relevância para nossa reflexão, pois o que importa é o sentido e significado que a mensagem atribuída a ele tem sobre o cotidiano das pessoas bem como sua pertinência no grupo social que compartilham os mesmos valores na criação de um agrupamento bastante coeso. Nessa perspectiva, as contribuições de Zoroastro pode ser buscada na sua dicotomia sobre a realidade.
Zoroastro, enquanto um homem ligado ao trabalho intelectual de sua época (pois escrevia poemas), distinguia duas realidades opostas: o bem e o mal. A partir dessa concepção entre o bem e o mal, Zoroastro criava um conjunto de normas morais com base em um Deus-Criador do bem e outro Deus-Criador do mal que estaria em constante batalha. Essa classificação foi importante porque aqui há a intuição sobre o que é virtuoso, bom e deveria ser buscado pelos homens. Na contraparte, estabelece o comportamento que as pessoas deveriam rejeitar. Zoroastro também inovou ao tirar dos animais míticos a culpa dos atos humanos (como pensavam os hebreus, ameríndios e africanos) e a transfere para duas forças transcendentais de onde emanam o bem e o mal.
A doutrina do Masdeísmo está contida no Livro Sagrado chamado Avesta e sua compilação data do século II a.C. Suas narrativas trazem cosmogonias como a criação do mundo, origem do casal primordial, sua ascensão e queda, o Dilúvio. Novamente os Textos Sagrados procuram dar sentido a vida humana na medida em que oferecem uma compreensão do mundo e explicam os males da existência. Zoroastro com muita sapiência respondia aos anseios do mundo antigo — Uma busca que também é nossa. A originalidade de sua mensagem é atualizada ao longo dos anos e dos povos de modo que a dicotomia entre o bem e o mal constrói nossas relações com o outro, consigo e com a própria religião.
REFERÊNCIAS
CORREIA Júnior, João. L. Textos Sagrados. [Seminário: Tradições E Experiências Religiosas, Cultura E Sociedade – Textos Sagrados], 2021.
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