8 anos Religião e mídia I

 

Ensino Religioso


O discurso religioso na mídia

Não podemos desconhecer ou minimizar a presença dos diversos setores das igrejas católicas e protestantes, que se articularam na aquisição de poderosas redes de comunicação com as mais peculiares finalidades, que vão desde a "comercialização da fé” até a difusão do Evangelho.


Todavia, é no seio das igrejas neopentecostais que existem aquelas que mais se utilizam da mídia, sobretudo da eletrônica para a propaganda religiosa. As mensagens têm apelos diversificados. É o que Sílvio Santos, num debate na ECA/USP, chamou de "indústria da fé". Trata-se de uma autêntica propaganda religiosa dirigida às massas, com apelos nem sempre éticos quanto à veracidade dos milagres anunciados.


As igrejas neopentecostais ganham destaque entre os protestantes por meio do visível crescimento numérico, que é mensurado hoje, tanto nos meios de comunicação, quanto na produção acadêmica sobre o protestantismo. Tal fenômeno é percebido porque as denominações neopentecostais dirigem seus cultos e suas pregações às massas. Assim, utilizam diversos meios de comunicação como o rádio, a TV ou a mídia impressa, recebendo em contrapartida, uma grande adesão do público atingido. Com efeito, essa desenvoltura deve-se, essencialmente, aos muitos programas de rádio e televisão veiculados na atualidade.


Em vários deles, as ênfases mais convincentes ficam por conta dos anúncios de curas fantásticas e de diversos milagres. Contam com uma considerável audiência que acaba por ser recrutada para dentro de suas igrejas. A sistemática utilizada dos testemunhos é contundente, inclusive, alguns programas reproduzem, através de dramatização, toda a história do testemunho considerado vitorioso e isso, certamente, encoraja outros a tomarem o mesmo caminho em busca de resultados semelhantes.


Em outros casos a ênfase é diversional. O mundo do show business é instaurado na propagação religiosa. Recursos espetaculares à disposição da religião se adaptaram e se renovaram magistralmente. Isso se dá tanto em termos do conteúdo, quanto da forma, peculiares, portanto, aos respectivos meios comunicacionais utilizados na esfera religiosa.
Esse reflexo é sentido na concepção comunicativa e midiática dos meios seculares, amplamente utilizados pelas igrejas e que inspiram mutuamente o conteúdo da mensagem propagada: a experiência midiática produz eco na difusão religiosa. Tudo parece ser feito para produzir espetáculo, até o anúncio da “salvação” em Jesus Cristo.


É bem verdade que ao utilizar com maior força a televisão, os especialistas em comunicação contratados pelas igrejas midiáticas sabem que, no que se refere ao conteúdo, o material produzido para a TV, deve ter, fundamentalmente, além de atrativos, um caráter simplista e simplificador. Por isso, é abundante a oferta de conteúdos pseudo-religiosos televisivos superficiais, emotivos e sustentados no voyeurismo instaurado na contemporaneidade, no deslumbramento das estrelas e no narcisismo. Ou seja, quanto mais visual, maior será a chance de certo conteúdo ser veiculado com sucesso e audiência no meio televisivo. Boa parte da programação religiosa hoje parece apenas seguir a lógica do mercado capitalista. O objetivo é o lucro. Atrair a audiência dos telespectadores.


No geral, a comunicação midiática, tem estabelecido com o sagrado um diálogo interessante. Tal diálogo está presente em uma relação inovadora que ocorre muitas vezes pela possibilidade de escolher, através da mídia, adquirir produtos ou formas religiosas que melhor se ajustem às necessidades individuais de cada “fiel”. Alguns estudiosos das religiões começam a comparar esta nova forma de relacionamento, com o procedimento dos consumidores em um supermercado. Nesse “supermercado da fé”, as pessoas podem avaliar as qualidades, as vantagens e os benefícios de cada denominação, em seguida adquirir uma ou mais de uma, das que estão disponíveis.


Por outro lado, tal cenário mercadológico evidenciou as fragilidades quanto à fidelidade denominacional – o que tem feito com que os líderes religiosos travem uma verdadeira batalha entre si. Esse embate se dá necessariamente no campo discursivo e o lugar mais propício para a exposição das características de cada religião são os meios de comunicação de massa. Na mídia, os produtos religiosos e a própria religião, são cuidadosamente apresentados em uma atraente embalagem. Isso ocorre mesmo quando a produção midiática não é extremamente profissional. O embate travado no campo discursivo se materializa nas estratégias argumentativas dos sermões, na emocionalidade que aflora à pele e nos depoimentos que permitem a identificação com a vida de outros ouvintes ou telespectadores.
Trata-se, portanto, da inovação de um diálogo mercadológico, que acarreta na “mundanização do sagrado”, já que é possível ver o acelerado e surpreendente crescimento de novas e diversas formas de apresentação do “sagrado” através do discurso religioso veiculado na mídia. Tal discurso avança e desafia as formas religiosas tradicionais, consideradas hoje, ultrapassadas.


Atividade

  1. O que significa a expressão "indústria da fé"?

  2. Qual a diferença entre fé convincente e fé diversional?

  3. O que você entendeu sobre “supermercado da fé”? Que produtos o mercado religioso oferece a seus receptores? Você já consumiu ou consome produtos religiosos? Quais? Porquê?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ressurreição, reencarnação, ancestralidade e o nada

Durkheim - a religião é um fato social

Antropologia Interpretativa