Os
frutos da religiosidade midiática
Segundo
o ISER – Instituto de Estudos da Religião, o crescimento
religioso viabilizado também pela mídia tem sido tão grande
que, apenas em um estado como o Rio de Janeiro, se chega a abrir
cinco igrejas por semana.
Tal
massa de indivíduos religiosos que cresce espantosamente, em
média, 7% ao ano, é hoje totalizada em 26 milhões de pessoas
classificadas e agrupadas em centenas de denominações diversas,
formando uma nação de cristãos que equivale, em quantitativo, à
soma das populações da Bélgica, Dinamarca e Finlândia. Destes
indivíduos, 75% agrupam-se denominacionalmente no
pentecostalismo, com uma grande parcela inserida na subdivisão
neopentecostal, muitos retirados, é bem verdade, dos bancos da
igreja católica.
Dessa
forma, entendemos que o grande diferencial das igrejas midiáticas
é a própria segmentação do público e a elaboração de um
discurso fácil de ser circunscrito e aceito pelas massas. A esses
públicos de níveis sócio-econômicos variados e segmentados,
diversos discursos são oferecidos. Sempre haverá, na comunicação
midiática das igrejas eletrônicas, o oferecimento de uma lógica
discursiva que ajudará os fiéis que a elas aderirem, a
possibilidade de entretenimento ou solução dos problemas do
dia-a-dia, além de ensiná-los a traçar metas ambiciosas a longo
prazo.
Diversas
igrejas contam com redes de TV e rádio espalhadas pelo país, tão
somente porque as mensagens religiosas veiculadas nos meios de
comunicação têm sido um forte instrumento de captação de
novos adeptos e mais recursos financeiros, fazendo com que as
igrejas que deles se utilizam, experimentem nos últimos anos um
crescimento na ordem de 100% no número de fiéis. Como maior
expoente desta categoria, temos a Igreja Universal do Reino de
Deus, dona da Rede Record e de milhares de templos no Brasil e
exterior.
Portanto,
após a análise do panorama religioso midiático, o que se
verifica é que o diálogo veiculado nos meios de comunicação de
massa tem estabelecido um próspero relacionamento entre
religiosidade e campo midiático. A nosso ver tal relacionamento
ancora-se no amplo e crescente processo de midiatização das
instituições, que hoje estão subordinadas a uma produção de
discurso semelhante aos discursos estruturados no campo dos
medias. Em paralelo, vemos o campo midiático tomar para si um
novo papel na construção e propagação das novas formas de
religiosidades. Em tal conjuntura, segundo Fausto Neto (2001) duas
questões se destacam: a primeira abarca as estratégias
telemidiáticas, católicas e neopentecostais, ampliadas ao longo
dos últimos anos e o recurso a gêneros discursivos da esfera
midiática. A segunda, ainda de acordo com o autor, faz referência
às tensões e negociações que campos sociais midiáticos e não
midiáticos alargam para a construção e publicização de
acontecimentos que se produzem no mundo da religião, e que, por
força de suas ressonâncias culturais, atravessam a esfera das
mídias.
Nesse
caso, o discurso religioso assume visivelmente os ares do discurso
midiático. Os dois discursos se caracterizam na forma de
discursos de poder, já que eles não ocorrem fora dos meios de
comunicação, para isso, a própria mensagem religiosa
incorpora-se aos desejos dos espectadores. Prega-se o que os
consumidores-alvo anseiam. Promete-se o que os clientes potenciais
precisam. E assim, cria-se uma relação contratual entre
“anunciante” e mass
media.
Dessa forma, o discurso religioso/midiático, na maioria das
vezes, serve para reforçar significações já estabelecidas,
principalmente na sociedade de consumo em que estamos submersos.
Basicamente, os princípios parecem ter permanecido, porém os
invólucros mudaram consideravelmente. O ascetismo que era
exaustivamente pregado no catolicismo e protestantismo
tradicionais cedeu lugar ao hedonismo. Em vez de oporem-se ao
mundo, que antes era considerado como um verdadeiro ninho de
pecados, agora se propõe a integralização a ele. O fato é que
as mensagens religiosas adaptaram-se aos tempos da comunicação
massiva e geraram o maior vetor de ajustamento sócio-religioso de
todos os tempos.
Por
fim, debruçar-nos sobre os programas religiosos midiáticos nos
faz perceber que foi instituída uma peculiar aliança entre a
mídia e a religiosidade contemporânea. Tal pacto, como defende
Klein (2006) resulta no aparecimento de dois fenômenos híbridos:
o primeiro é a contaminação
da mídia
pelo universo religioso, com os abundantes conteúdos religiosos
veiculados nela. Já o segundo, é o consumo
e a experiência
de absorver uma religiosidade midiática que se constrói a partir
de um discurso que ressalta o tempo todo a sua função como tal,
mas que se orienta esteticamente pela cultura de massa, provendo
conteúdo capaz de disputar em “pé de igualdade” com a
audiência de qualquer programa secular.
ATIVIDADE
Qual
igreja é a maior expoente na divulgação da mensagem cristã
através dos meios de comunicação de massa?
Qual
é o objetivo do discurso religioso/midiático?
Dê
dois exemplos de fenômenos híbridos que os programas religiosos
provocam.
Cite
alguns programas religiosos que estão presentes na TV
brasileira.
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