Postagens

A aplicação do método positivista na história da política brasileira

O método positivista, que tem como maior expressão o filósofo francês Augusto Conte, está grandemente marcado pela influência do pensamento evolucionista contido em sua obra e expressa sobre a hierarquia dos fenômenos que é o principal motor para a compreensão de suas ideias. Por outro lado, numa perspectiva hermenêutica e não linear da história, a ênfase recai sobre a relativização de diferentes perspectivas, (MELO, 2015)¹. O positivismo desenvolveu-se como uma linha de pensamento que exalta o conhecimento e método científicos. Essa característica, além de exaltar os benefícios da industrialização, seus processos e conquistas advindas da Revolução Industrial (sem considerar o quanto a Revolução Industrial foi cruel para a classe trabalhadora), visualiza com grande otimismo o capitalismo financeiro, a técnica e a ciência (COTRIM, 1986)². Segundo a concepção desenvolvida por Conte, através de três diferentes estágios (teológico, metafísico e positivo), o homem alcançaria o últ

As principais contribuições dos Estudos de Comunidades no Brasil para a Antropoloiga

A característica mais geral dos estudos antropológicos sobre a etnologia indígena repousa na premissa de que os estudos sobre as comunidades indígenas permitiram a continuidade da Tradição das Ciências Sociais. Isso foi possível graças ao trabalho realizado pelos antropólogos e a utilização do método etnográfico. Havia necessidade de uma metodologia que fornecesse uma compreensão mais subjetiva da realidade social das populações indígenas, mas que não fosse tão abrangente quanto a macrossociologia, que se preocupava com questões nacionais muito amplas. Para compreender a vida social dos indígenas, sem as pré-noções e preconceitos fazia-se necessário pensar e agir como um índio, isto é, despojar-se da própria cultura recebida. Isso só seria realizável por meio de estudos que estivessem pautados na observação direta, in loco , participando de uma relação ad intra , de dentro para fora, e não o contrário. Entre as contribuições mais significativas que os estudos de comunidades no Br

Resenha sobre o documentário “Muita Terra pra Pouco Índio”

Referência Bibliográfica [OLIVEIRA , Bruno. P. Muita terra pra pouco índio? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wAh2nokq-iM . Acesso em 17 de abr. de 2015.] Este documentário é uma produção do antropólogo Bruno Pacheco de Oliveira. O autor busca no documentário dar vez e voz as populações indígenas no uso que faz da etnologia indígena. Sua preocupação com o descaso das autoridades em relação à política indigenista em vários estados da Federação permeia todo seu trabalho. O estudo sobre as condições de vida dos índios, a demarcação de suas terras, os conflitos com posseiros, o corte ilegal de madeiras e outras dificuldades enfrentadas por essas populações, são arroladas por diferentes autoridades que representam indireta ou diretamente esse povo. Em linhas gerais, reúne o depoimento de 27 pessoas dos mais variados estados como Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio Grande do Sul e as comunidades indígenas situadas nesses estados. O assunto é alvo de muito

Antropologia

Principais características da disciplina antropologia no Brasil:  a Etnologia Indígena , os Estudos de Comunidades e a Antropologia Urbana. Etnologia indígena Os estudos etnológicos ofereceram uma importante contribuição ao dar visibilidade social às populações indígenas, que sempre foram acusadas de emperrar o desenvolvimento e consolidação do Brasil-nação. Atualmente pode-se traçar muitas de suas características, no entanto os estudos etnológicos no Brasil vem, desde 1970, percorrendo diferentes configurações como método já consolidado em pesquisa de campo, observação e coleta de dados. Contudo, u ma das características principais da etnologia indígena pode ser atribuída às experiências de campo resultantes da coparticipação e relacionamento entre índios e antropólogos (FERREIRA, 2015). Essa característica marca a fase inicial d esses estudos. Estudos de Comunidades Já a s décadas de 1940 e 1950 serão marcadas por uma fase em que os estudos desenvolvidos pela

Resenha do documentário “A Raça Humana”

Referência bibliográfica [Documentário "raça humana" revela bastidores das cotas _ raciais _ na _ unb. _ Disponível _ em _ https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo . Acesso em 20 de Abr. de 2015]. O documentário é uma produção que instiga o debate sobre a política de cotas em universidades públicas. O vídeo é uma montagem com cortes de diferentes eventos. A direção e roteiro do vídeo são de Dulce Queiroz e a produção é de Pedro Henrique Sassi e Pedro Caetano. No documentário há basicamente duas posturas em relação a política de cotas raciais e que são confrontadas em debate: os que se declaram a favor das cotas e os que se declaram contra. Um e outro tentam justificar suas opiniões e posturas, mas em torno do acalorado debate há um retorno às discussões sobre raça (termo já em desuso nos meios científicos). O processo seletivo da Universidade de Brasília (UnB) aderiu ao sistema de cotas raciais desde o ano de 2004. Das vagas ofertadas, 20% se destinam ao

Contribuição de Sérgio Buarque de Holanda para a Ciência Social Brasileira

Entre os autores que se debruçaram sobre a História colonial do Brasil na busca de uma linha de identidade histórico-social, a obra de Sérgio Buarque de Holanda, intitulada Raízes do Brasil, tem figurado entre as mais importantes contribuições explicativas sobre a formação psicocultural do Brasil no âmbito da Ciência Social Brasileira. Além disso, seu livro junto com outras obras trazem inovações para um melhor entendimento sobre aquilo que se convencionou chamar de pensamento brasileiro. Revisitando nosso passado, a exemplo de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil propõe um campo teórico sem saudosismo de um Brasil que não volta mais, sem a nostalgia dos engenhos e da paisagem das fazendas (FERREIRA, 2015). Seus esforços desconstruíram alguns mitos que, no decorrer da História, foram incorporados à cultura brasileira, obscurecendo com isso, o que de fato era genuíno e o que havia sido transplantado pelo processo civilizador. Embora Sérgio Buarque reconheça que nossa cultura legou às

Mudança paradigmática no olhar sobre a mestiçagemem Casa-grande & Senzala

Um dos estudos seminais sobre a importância e valorização do mestiço no cenário da formação da identidade brasileira foi a obra de Gilberto Freyre, intitulado Casa-Grande & Senzala. Pode-se destacar como aspecto central a valorização que Freyre emprega à miscigenação, isto é, a mistura de diferentes grupos étnicos. Segundo o autor, observar essa peculiaridade sem o fio condutor dos discursos racialistas, se faz necessária para compreensão do Brasil enquanto nação. Em seu trabalho, Gilberto Freyre tira a ênfase que muitos autores que o precederam deram as raças, e direciona seu foco para outra discussão: a cultura. Essa postura será marcada por mudanças profundas na interpretação sobre a identidade brasileira, pois oferece uma releitura otimista e um estilo de maior alcance do público. Cassa-Grande & Senzala, considerada um marco sobre a identidade brasileira, se contrapõe a ideia convencional de que a mestiçagem é degenerativa, isto é, uma ameaça à espécie e à evolução da soc

Expedições Científicas realizadas no Brasil durante o século XIX

 Enquanto a primeira fase das expedições no Brasil a preocupação principal concentrava-se com o interior do país como, por exemplo, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e cujo programa era acompanhar o desenvolvimento de infraestrutura necessária para combater quadros de epidemia de malária, na segunda fase das expedições, mais duradoura e de maiores investimentos, tinham como objetivo explorar o quadro nosológico, expandindo sua produção de medicamentos e modernização (EXPEDIÇÕES HISTÓRICAS, 2015). Desde sua fundação no ano de 1900, o Instituto Oswaldo cruz se articulou como uma instituição de atividade de pesquisa, centro de medicina experimental, centro produtivo de remédios e ao ensino de microbiologia. As expedições comandadas por Oswaldo Cruz (diretor do Instituto), em parceria com o governo federal, além de contribuírem para combater os surtos epidemiológicos, sinalizava a necessidade de ações políticas para modernização do país nos setores energéticos, ferr

Como Caio Prado entende a utilidade do materialismo histórico para compreender a condição econômica de formação do Brasil?

A interpretação histórica que Caio Prado Jr. faz sobre a formação social do Brasil é uma interpretação de orientação marxista denominada de materialismo histórico. A abordagem do materialismo histórico por Caio Prado Jr. permitiu uma compreensão dos processos sociais no contexto colonial. Nesse sentido, seu trabalho foi inovador, pois introduz em seu livro Evolução Política do Brasil, um espírito investigativo responsável por conferir um novo sentido e um novo significado sobre a História do Brasil. De fato, em sua obra Evolução Política do Brasil, é possível vislumbrar uma historiografia inteiramente nova, que tira a ênfase dos grandes acontecimentos elencados pela historiografia oficial, ao destacar os heróis, as guerras e transição política de governos, redirecionando-a para as desigualdades entre as classes e dando visibilidade às relações de exploração (FONSECA. 1991). Outra utilidade do materialismo histórico de Caio Prado Jr., foi a inclusão dos explorados como sujeitos da Hist

o sentido da colonização na obra de Caio Prado e sua principal consequência para a formação do Brasil

SIGNIFICADO E SENTIDO DA COLONIZAÇÃO As expansões marítimas que resultaram na colonização colocaram Portugal numa importante posição de vanguarda marítima, ao se desvincular do continente e passando a exercer seu domínio sobre as colônias. Caio Prado observa que a colonização foi responsável por ligar o novo mundo às rotas comerciais dos países europeus a exemplo do que ocorria com a África e com a Ásia, ainda que em diferentes contextos. O autor destaca que esse marco contribuiu par integrar os novos povos ao mundo moderno, mas que somente à Europa cabia o papel de soberana sobre os povos conquistados. Nesse sentido, a integração entre os povos não constituía em liberdade e igualdade de direitos, mas uma assimilação do modo de vida e da cultura europeia. O povoamento da colônia que viria a se constituir um Brasil-nação foi um fato pequeno diante dos acontecimentos e transformações pelo que estava passando a Europa. Embora estivesse ligado a um evento maior, o povoamento